A edificação da Igreja é obra perene, e o acabamento da imensa obra espiritual só acontecerá na Jerusalém celeste
A Liturgia da Igreja tem um rito altamente significativo, a Dedicação do Templo e do Altar, com o qual os edifícios destinados ao uso do culto são “separados”, “consagrados”. Na ocasião, a celebração se inicia com a entrega do templo ao Bispo, que faz a Dedicação e o devolve ao uso da Comunidade a que se destina. Anualmente celebra-se a festa alusiva a este gesto sagrado, para que cresça a consciência da vocação cristã e o sentido de pertença à Igreja. Dentre todos os templos edificados pelo mundo afora, ganha destaque a Basílica do Santíssimo Salvador em São João de Latrão, também chamada de Catedral de Roma, a Sede que preside à caridade, onde o Papa toma posse de sua missão como “Bispo de Roma”. Porque é Bispo de Roma é que lhe cabe o primado na Igreja. Anualmente, no dia nove de novembro, a Dedicação da Basílica do Latrão é comemorada solenemente e oferece bela oportunidade para um conhecimento maior da própria Igreja.Nossas grandes cidades assistem ao crescimento urbano desafiador, que exige uma atenção especial de todas as pessoas que se sentem responsáveis pela Igreja. Impressiona fortemente a dedicação de homens e mulheres que se organizam, conduzidos pela liderança de tantos dedicados sacerdotes, para a construção das igrejas e Capelas. Edifica-me ver as muitas ofertas semelhantes às duas moedas da viúva pobre elogiada por Jesus no Evangelho (Cf. Mc 12, 42-43). De vez em quando escuto observações de pessoas sobre as construções de nossos templos: “Obra de Igreja não termina nunca!” E é verdade, pois os muitos mutirões, coletas, campanhas de todo tipo, tudo é feito com boa vontade, especialmente dos mais pobres! Prolongado o tempo para a construção, magnífico aprendizado que se realiza!
E aqui está a primeira das muitas lições: a edificação da Igreja é obra perene, e o acabamento da imensa obra espiritual só acontecerá na Jerusalém celeste. Quem entra na Igreja, chega para participar de uma imensa tarefa, que envolve a todos, pois Igreja é missão! As portas que desejamos abertas, de todas as igrejas e capelas, sejam o sinal daquele que é a porta das ovelhas, o próprio Senhor Jesus Cristo (Cf. Jo 10, 7). Para que todos os homens e mulheres venham a passar por ele, o olhar dos cristãos que já o encontraram deverá ampliar-se para alcançar a todos. Certamente os cristãos leigos e leigas têm à disposição um imenso leque aberto de contatos, oportunidades de diálogo e evangelização direta, muito mais do que os Bispos e Padres. É que seu campo de ação e seu desafio é o imenso mundo das profissões, do relacionamento social de todo tipo, o corpo a corpo do diálogo com as diversas estruturas do mundo. Igreja é convocação, chamado universal à salvação.
O fundamento da missão da Igreja se encontra no Sacramento do Batismo, no qual todos recebemos uma tríplice tarefa: profetas, para anunciar a Palavra da verdade; sacerdotes, com a graça para oferecer tudo a Deus, como sacrifício agradável; reis e pastores do reinado de Cristo, para edificar na caridade o relacionamento fraterno em todo lugar. Daqui nasce a igualdade fundamental na dignidade e na responsabilidade, com a qual todos se sentem membros vivos da Igreja de Cristo. Não dá para imaginar um cristão de verdade que se acomode na passividade diante dos problemas de nosso tempo.
Quem vai à missa aos domingos, ali escuta a Palavra de Deus e se alimenta da Eucaristia, sai da Igreja-templo para construir a Igreja-Corpo de Cristo, vivendo o ensinamento do Apóstolo: “Há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo. Há diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo. Há diferentes atividades, mas é o mesmo Deus que realiza tudo em todos. A cada um é dada a manifestação do Espírito, em vista do bem de todos. A um é dada pelo Espírito uma palavra de sabedoria; a outro, uma palavra de conhecimento segundo o mesmo Espírito. A outro é dada a fé, pelo mesmo Espírito. A outro são dados dons de cura, pelo mesmo Espírito. A outro, o poder de fazer milagres. A outro, a profecia. A outro, o discernimento dos espíritos. A outro, a diversidade de línguas. A outro, o dom de as interpretar. Todas essas coisas as realiza um mesmo Espírito, que distribui a cada um conforme quer” (1 Cor 12, 4-11).
Acolhendo a missão, prontos a edificar a Igreja, os cristãos abrem braços e corações para todos. Como numa família, saberão dar atenção a cada pessoa, levando em conta sua história. Na Igreja encontrem seu lugar os que se aproximam da fé, tocados pela Palavra de Deus e pelo testemunho dos fiéis. Não é discriminação oferecer-lhes o alimento espiritual que são capazes de absorver. Sejam amados e acompanhados os catecúmenos, admitidos ao processo de iniciação cristã. O tempo que lhes é dado para a formação, antes dos Sacramentos da Iniciação cristã, é fecundo da graça de Deus. Não faz bem precipitar os passos a serem dados, inclusive para respeitar seu amadurecimento pessoal. Cabem na Comunidade Eclesial as pessoas que estão num processo de conversão e penitência, quem sabe depois de estradas nem sempre bonitas, percorridas pelo mistério da liberdade humana. Acolhê-los e acompanhá-los com paciência, valorizando as descobertas da graça do Senhor, da prática dos mandamentos e os frutos de uma escuta amorosa da Palavra de Deus, é o caminho pedagógico suscitado pelo amor de Cristo por eles. Trabalhe-se fervorosamente para que encontrem decididamente a estada da vida nova!
Que dizer das famílias, Igreja Doméstica, na graça de ser esposo e esposa, pai, mãe, filhos e filhas, irmãos e irmãs? Deus seja louvado por estas porções preciosas do Corpo de Cristo, presentes no recesso do lar, estrelas que brilham e apontam a todos o caminho do amor. É olhando para elas que os cristãos se animam a acompanhar com caridade ao mesmo tempo forte e cheia de ternura misericordiosa, as famílias em situação particular, tantas delas sem a graça do Sacramento do Matrimônio, mas lares a serem amados e valorizados, a fim de encontrarem o espaço de carinho e dedicação da Igreja. A verdade sobre o ideal da família santificada pela graça sacramental não as desanime, mas as conduza aos caminhos possíveis a cada situação.
E a Igreja se edifica com a contribuição das várias gerações. Igreja e sociedade sem crianças são privadas de vitalidade. Os casais que se abrem ao dom do filho, e filho é bênção (Cf. Sl 127, 1-5) constroem a Igreja do futuro! E mais dois polos da vida social e da Igreja encontrem seu lugar. Com a palavra o Papa Francisco: “Olhem! Eu penso que, neste momento, a civilização mundial ultrapassou os limites, ultrapassou os limites porque criou um tal culto do ‘deus’ dinheiro, que estamos na presença de uma filosofia e uma prática de exclusão dos dois polos da vida que constituem as promessas dos povos. A exclusão dos idosos, obviamente: alguém poderia ser levado a pensar que nisso exista, oculta, uma espécie de eutanásia, isto é, não se cuida dos idosos; mas há também uma eutanásia cultural, porque não se lhes deixa falar, não se lhes deixa agir. E a exclusão dos jovens: a percentagem que temos de jovens sem trabalho, sem emprego, é muito alta e temos uma geração que não tem experiência da dignidade ganha com o trabalho. Assim, esta civilização nos levou a excluir os dois vértices que são o nosso futuro. Por isso os jovens devem irromper, devem fazer-se valer; os jovens devem sair para lutar pelos valores, lutar por estes valores; e os idosos devem tomar a palavra, tomar a palavra e ensinar-nos! Que eles nos transmitam a sabedoria dos povos!” (Cf. Encontro com os jovens argentinos, na Jornada Mundial da Juventude).
Igreja, Povo de Deus! Venham todos a ajudarem na edificação da Igreja, Corpo de Cristo. Há lugar para todos no regaço amoroso do amor do Pai, na força do Espírito Santo que conduz a Igreja pelos caminhos do mundo, rumo à eternidade.
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