domingo, 29 de março de 2015

Não existe humildade sem humilhação, diz Papa Francisco neste domingo

Neste Domingo de Ramos, 29, Papa Francisco cita que o verdadeiro caminho de Deus é o da humildade e que não há outra estrada de Jesus a não ser essa

Neste Domingo de Ramos, 29, que marca o início da Semana Santa, o Papa Francisco presidiu à celebração eucarística na Praça São Pedro, com a participação de milhares de fiéis. A cerimônia teve início com a bênção dos ramos, que recordam a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, seguida da procissão.

O Papa citou em sua homilía um trecho do hino da Carta aos Filipenses, que diz “Humilhou-Se a Si mesmo”. Para Francisco, esta palavra desvenda o estilo de Deus e do cristão: a humildade.

“Um estilo que nunca deixará de nos surpreender e pôr em crise: jamais nos habituaremos a um Deus humilde! Humilhar-se é, antes de mais nada, o estilo de Deus. Deus humilha-Se para caminhar com o seu povo, para suportar as suas infidelidades.”

O Pontífice acrescenta dizendo que esta Semana que nos leva à Páscoa só será Santa se caminharmos por esta estrada da humilhação de Jesus.

“Nestes dias, ouviremos o desprezo dos chefes do seu povo e as suas intrigas para O fazerem cair. Assistiremos à traição de Judas. Veremos o Senhor ser preso, condenado à morte, flagelado e ultrajado. Ouviremos que Pedro, a “rocha” dos discípulos, O negará três vezes. Ouviremos os gritos da multidão, que pedirá a Sua crucificação. E O veremos coroado de espinhos.”

Francisco prossegue observando que este é o caminho de Deus, o caminho da humildade e que não há outra estrada de Jesus a não ser essa. “Não existe humildade sem humilhação”.

O Santo Padre explica ainda que humildade quer dizer serviço, significa dar espaço a Deus despojando-se de si mesmo, esvaziando-se. “Esta é a maior humilhação.”

O caminho do mundanismo
Francisco frisou que o mundanismo é o caminho contrário ao de Cristo. “O mundanismo oferece-nos o caminho da vaidade, do orgulho, do sucesso. É o outro caminho. O maligno o propôs também a Jesus, durante os quarenta dias no deserto, mas Ele rejeitou-o sem hesitação. Com Cristo, também nós podemos vencer esta tentação, não só nas grandes ocasiões mas também nas circunstâncias ordinárias da vida.”

O Papa deu como exemplo tantos homens e mulheres que cada dia, no silêncio e escondidos, renunciam a si mesmos para servir um familiar doente, um idoso sozinho ou uma pessoa deficiente.

Ao finalizar sua reflexão, o Santo Padre citou a humilhação daquelas pessoas que, por sua conduta fiel ao Evangelho, são discriminadas e perseguidas, definindo-as os mártires de hoje, pois suportam com dignidade insultos e ultrajes para não renegar Jesus.

“Com eles, emboquemos também decididamente esta estrada, com tanto amor por Ele, o nosso Senhor e Salvador. Será o amor a guiar-nos e a dar-nos força e onde Ele estiver, estaremos também nós”, conclui.

sábado, 28 de março de 2015

Coleta do Domingo de Ramos será destinada a Coleta Nacional da Solidariedade

No próximo domingo, 29 de março, todas as comunidades celebram o Domingo de Ramos, fazendo memória da entrada de Jesus em Jerusalém. Nesta data, a Igreja no Brasil assume como gesto concreto da Campanha da Fraternidade a Coleta Nacional da Solidariedade.

Todas as doações são divididas entre o Fundo Diocesano de Solidariedade (FDS) e o Fundo Nacional de Solidariedade (FNS). Para o FDS ficam 60% dos recursos, que são destinados ao apoio de projetos sociais da própria comunidade diocesana. Os 40% restantes compõem o FNS, revertidos no fortalecimento da solidariedade entre as diferentes regiões do país.

Ao percorrermos o itinerário da Campanha durante o tempo quaresmal e participarmos desse gesto concreto de partilha, possamos continuar seguindo Cristo, caminho, verdade e vida (Cf. Jo 14,6).

Participe da Coleta Nacional da Solidariedade e contribua para a promoção e o apoio a projetos em todo o país.

sexta-feira, 27 de março de 2015

Semana Santa: mistério central de nossa fé

A Semana Santa é o grande momento litúrgico do ano, quando celebramos o mistério central de nossa fé: a Ressurreição de Jesus. Para isso, temos um tempo muito especial e com celebrações profundas. No fundo é um grande retiro espiritual das comunidades eclesiais, convidando os cristãos à conversão e renovação de vida. Ela se inicia com o Domingo de Ramos e se estende até o Domingo da Páscoa. É a semana mais importante do ano litúrgico, quando se celebram de modo especial os mistérios da paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo.

A celebração do Domingo de Ramos lembra a entrada de Jesus em Jerusalém, aonde vai para completar sua missão, que culminará com a morte na cruz. Os evangelhos relatam que muitas pessoas homenagearam a Jesus, estendendo mantos pelo chão e aclamando-O com ramos de árvores. Por isso, hoje os fiéis carregam ramos, recordando o acontecimento. Imitando o gesto do povo em Jerusalém, querem exprimir que Jesus é o único mestre e Senhor.

Nos primeiros dias da Semana Santa, a Liturgia apresenta textos bíblicos que enfocam a missão redentora de Cristo. Nesses dias não há nenhuma celebração litúrgica especial, mas nas comunidades paroquiais é costume realizarem procissões, vias-sacras, celebrações penitenciais e outras, procurando realçar o sentido da Semana. São tradicionais os sermões do depósito, do encontro de Nosso Senhor com Maria Santíssima no caminho do Calvário, e o Sermão de Nossa Senhora das Dores.

O ponto alto da Semana Santa é o Tríduo Pascal (ou Tríduo Sacro), que se inicia com a missa vespertina da Quinta-feira Santa e se conclui com a Vigília Pascal, no Sábado Santo. Os três dias formam uma só celebração, que resume todo o mistério da Páscoa. Por isso, nas celebrações da quinta-feira à noite e da sexta-feira à tarde não se dá a bênção final; ela só será dada, solenemente, no final da Vigília Pascal.

Na Quinta-feira Santa de manhã (ou em outro dia que as necessidades pastorais aconselharem) celebra-se a instituição da Eucaristia e do Sacerdócio ministerial. A Eucaristia é o sacramento do Corpo e Sangue de Cristo, que se oferece como alimento espiritual. Pela manhã só há uma celebração, a assim chamada Missa do Crisma que, em nossa Arquidiocese, será celebrada na Catedral Metropolitana, na Avenida Chile, quando todos os sacerdotes irão renovar seus compromissos presbiterais. Nesta Missa do Crisma acontece a bênçãos dos óleos dos catecúmenos e enfermos. E há também a consagração do óleo do Crisma. Ao final, entregaremos um frasco aos presbíteros para que os levem às suas paróquias, para a utilização na celebração dos sacramentos neste ano.

Na quinta-feira à noite acontece a celebração solene da Missa em que se faz memória da instituição da Eucaristia, do mandato do amor ao próximo e do Sacerdócio ministerial. Nessa missa, realiza-se a Cerimônia do Lava-pés, em que o celebrante recorda o gesto de Cristo, que lavou os pés dos seus apóstolos. Esse gesto procura transmitir a mensagem de que o cristão deve ser humilde e servidor.

Nessa celebração também se recorda o mandamento novo que Jesus deixou: “Eu vos dou um novo mandamento, que vos ameis uns aos outros assim como Eu vos amei”. Comungar o corpo e sangue de Cristo na Eucaristia implica a vivência do amor fraterno e do serviço. Essa é a lição da celebração.

Na Sexta-feira Santa a Igreja contempla o mistério do grande amor de Deus pelos homens. Ela se recolhe no silêncio, na oração e na escuta da Palavra Divina, procurando entender o significado profundo da morte do Senhor. Neste dia não há missa. À tarde acontece a Celebração da Paixão e Morte de Jesus, com a proclamação da Palavra, a oração universal, a adoração da cruz e a distribuição da Sagrada Comunhão. Na primeira parte, são proclamados um texto do profeta Isaías sobre o Servo Sofredor, figura de Cristo, outro da Carta aos Hebreus que ressalta a fidelidade de Jesus ao projeto do Pai, e o relato da paixão e morte de Cristo, do evangelista João. São três textos muito ricos e que se completam, ressaltando a missão salvadora de Jesus Cristo. O segundo momento é a Oração Universal, compreendendo diversas preces pela Igreja e pela humanidade. Aos pés do Redentor imolado, a Igreja faz as suas súplicas confiantes. Depois segue-se o momento solene e profundo da apresentação da Cruz, convidando todos a adorarem o Salvador nela pregado: “Eis o lenho da Cruz, do qual pendeu a salvação do mundo. – Vinde adoremos”. E o quarto momento é a comunhão. Todos revivem a morte do Senhor e querem receber seu corpo e sangue; é a proclamação da fé no Cristo que morreu, mas ressuscitou. Nesse dia a Igreja pede o sacrifício do jejum e da abstinência de carne como ato de homenagem e gratidão a Cristo, para ajudar-nos a viver mais intensamente esse mistério, e como gesto de solidariedade com tantos irmãos que não têm o necessário para viver.

A Semana Santa não se encerra com a sexta-feira, mas no dia seguinte, quando se celebra a vitória de Jesus. Só há sentido em celebrar a cruz quando se vive a certeza da ressurreição.

Sábado Santo é dia de silêncio e de oração. A Igreja permanece junto ao sepulcro, meditando no mistério da morte do Senhor e na expectativa de sua ressurreição. Durante o dia não há missa, batizado, casamento, enfim nenhuma celebração de sacramentos.

À noite, a Igreja celebra a solene Vigília Pascal, a “mãe de todas as vigílias”, revivendo a ressurreição de Cristo, a vitória sobre o pecado e a morte. A cerimônia é carregada de ricos simbolismos, que nos lembram a ação de Deus, a luz e a vida nova que brotam da ressurreição de Cristo.

Então o tempo se abre para a Páscoa! Após termos retomado os vários símbolos e rezado solenemente a liturgia, partimos para as alegrias pascais, prolongadas pela oitava e celebradas nos 50 dias desse belíssimo tempo, convidando-nos a ser suas testemunhas até os confins da terra!


Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro (RJ)

quinta-feira, 26 de março de 2015

Ramos na mão e no coração

“Bendito o que vem em nome do Senhor!” (Marcos 11,10). 

É a expressão do povo inchado de alegria à passagem do Rei pobre, montado num jumentinho e entrando na capital do país. Os ramos e mantos foram lançados à sua passagem. Que rei é esse que não tem carruagem nem faz a propaganda de seu reinado?! É um rei diferente. Não é político de algum partido. Ele veio unir e não partir ou dividir. Seu comando não é para súditos interessados em propinas ou benesses. Sua riqueza prometida vale mais. É a riqueza da dignidade humana, do ideal de altivez de caráter, de olhar para o ser humano com a ação do bom samaritano, da ovelha perdida, do pai do filho pródigo, do perdão à pecadora pública, da água prometida à samaritana do poço de Jacó, do perdão aos carrascos lá do alto da cruz...

Esse rei pobre sabe “dizer palavras de conforto à pessoa abatida” (Isaías 50, 4). Ele oferece o próprio corpo para ser batido e não se afasta de quem lhe dá bofetada (Cf. Isaías 50, 8). Vai ao matadouro sem fazer resistência e ainda diz, do alto da cruz: “Pai, perdoa-lhes. Eles não sabem o que estão fazendo”(Lucas 23,33). Colocam inscrição na haste superior da cruz, caracterizando que Ele é rei! Quem o julgou e condenou pensava, talvez, que era superior a quem ele estava condenando! Mal sabia que o condenado, se quisesse, poderia aniquilá-lo. Mas o reino de Jesus é justamente o da misericórdia, do perdão, do retorno à condição de justo a toda pessoa que se arrepende e aceita o reinado de Deus.

Ainda bem que Deus não é vingativo nem quer tirar proveito do ser humano. Ele não precisa disso. Mas recompensa a cada um por sua vida e suas ações. Eis a necessidade de aceitarmos o senhorio divino. Com ele nos humanizamos, a ponto de nosso coração ser como verdadeiro ramo de aclamação do domínio do amor de Deus em nós. Tornamo-nos, assim, pessoas livres de todo o egoísmo e apego aos “reis” que nos escravizam, com as “propinas” das ilusões que nos fazem colocar a matéria acima da dignidade humana, da ética, da fraternidade, do ideal de amar e servir o semelhante.

Nossa religiosidade apenas de fachada e consumo social, ou de atos religiosos que nos apresentam como pessoas de fé. Sem o compromisso de colocar em prática os preceitos divinos, ela não representa a verdadeira fé transformadora da vida, em que deixamos os ditames do Filho de Deus nortearem nossa vida. Na forma verdadeira da fé teremos a força necessária para fazermos a sociedade ter o reino do entendimento, do diálogo, da lisura moral, da família constituída com os valores humanos e cristãos, bem como da política de verdadeira promoção do bem comum, a partir da inclusão social dos marginalizados.

Dentro dessa perspectiva e prática de vida, caminhamos confiantes, sabendo que Deus está conosco, como nosso Rei. O profeta traduz bem o ânimo de quem vive assim: “ Não me deixei abater o ânimo, conservei o rosto impassível como pedra, porque sei que não sairei humilhado” (Isaías 50, 7).

Dom José Alberto Moura
Arcebispo de Montes Claros (MG)

quarta-feira, 25 de março de 2015

Anuário Estatístico revela crescimento estável da Igreja

O número de católicos no mundo e o número de sacerdotes e diáconos permanentes cresceram ligeiramente em 2013, enquanto o número de homens e mulheres nas ordem religiosas diminuiu, revelam as mais recentes estatísticas do Vaticano. Pelo segundo ano seguido, o número de vocações também caiu.

Os dados estão no Anuário Estatístico da Igreja, cuja última edição foi completada em fevereiro, publicada neste mês e que reúne os números da Igreja no mundo inteiro até 31 de dezembro de 2013.

População católica
No final de 2013, a população católica mundial passou a marca de 1,253 bilhões, um crescimento de aproximadamente 25 milhões ou 2%, superando a taxa de crescimento da população global que, em 2013, foi estimada em 1%. Portanto, os católicos representam cerca de 17,7% da população global.

Assim como foi apresentado em anos anteriores, o Anuário estima que cerca de 4,8 milhões de católicos não foram incluídos nas estatísticas porque vivem em países que não fornecem relatórios ao Vaticano como, por exemplo, China e Coreia do Norte.

As Américas concentram a maior porcentagem de católicos entre a população: 63,3%, seguidas pela Europa, com 39,9%. A Ásia tem a menor prevalência: 3,2%.

Em 2013 mais de 16 milhões de crianças e adultos foram batizados, revela o Anuário, que demonstra ainda uma tendência de queda no número de crianças batizadas como consequência das baixas taxas de natalidade na maioria dos países. “A proporção de crianças batizadas abaixo dos 7 anos em comparação ao número de católicos tem diminuído em todos os continentes desde 2008”, destaca um trecho do relatório.

Religiosos
Sobre o número de bispos, foram 40 a mais no período, cujo total subiu para 5,173. O número total de sacerdotes – diocesanos ou de ordens religiosas – no mundo inteiro cresceu de 414,313 para 415,348, com um crescimento estável dos sacerdotes diocesanos presentes na África, na Ásia e nas Américas – na Europa, todavia, este número continua a cair.

O número de diáconos permanentes – 43,195 – teve um incremento de mais de 1.000 em relação ao ano anterior. O número de irmãos religiosos caiu ligeiramente de um total de 55,314 no final de 2012 para 55,253 no final de 2013.

O número de mulheres em ordens religiosas segue a tendência de queda. O total de 693,575 irmãs e freiras, temporária ou permanentemente professas, registrado em 2013 sofreu um decréscimo de 1,2% no último ano, 6,1% desde 2008. A maior queda neste período de cinco anos foi verificada na América do Norte, com uma queda de 16,6%, seguida pela Europa, com um decréscimo de 12,6%.

O número de candidatos ao sacerdócio – em seminários diocesanos e ordens religiosas – que iniciaram os estudos de filosofia e teologia segue em linha decrescente.

O número de seminaristas caiu de 118,251 no final de 2013 quando comparado aos 120,051 do mesmo período de 2012. O número de seminaristas registra ligeira tendência de aumento a cada ano a partir de 2003 até 2011, quando eram 120,616 os vocacionados.

Maravilhoso dom de Deus: Sacramento da Misericórdia

Estamos vivendo o tempo litúrgico da quaresma, em que continuamente soam em nossos ouvidos o chamado a um caminho cada vez mais concreto de conversão.

Mudança, transformação, vida diferente, marcada por um coração capaz de amar sem medida. Para tomar consciência do que realmente precisa mudar, temos a oportunidade de celebrar a confissão pessoal das nossas faltas.

Na semana passada o papa Francisco disse: “A confissão não deve ser uma tortura ou um interrogatório pesado, mas um encontro libertador que manifesta a misericórdia infinita de Deus. Não esqueçamos nunca, tanto como penitentes que como confessores: não existe pecado algum que Deus não possa perdoar! Nenhum! Só o que é subtraído à divina misericórdia não pode ser perdoado, como quem se subtrai do sol não pode ser iluminado nem aquecido”.

À luz deste maravilhoso dom de Deus o papa salientou três exigências: viver o sacramento como meio para educar à misericórdia; deixar-se educar por aquilo que celebramos; e manter o olhar sobrenatural.

Viver o sacramento como meio para educar à misericórdia, significa ajudar os nossos irmãos a fazer experiência de paz e compreensão humana e cristã, reiterando que a Confissão não deve ser uma "tortura", mas que todos deveriam deixar o confessionário com a felicidade no coração, com o rosto radiante de esperança, embora por vezes também molhado pelas lágrimas da conversão e da alegria que dela deriva.

Ao recordar a exigência de se deixar educar por aquilo que celebramos, o papa, dirigindo-se aos confessores, convidou-os a se deixarem educar pelo Sacramento da Reconciliação, pois por vezes acontece de ouvir confissões que nos edificam, irmãos e irmãs que vivem uma autêntica comunhão pessoal e eclesial com o Senhor e um amor sincero para com os irmãos; almas simples, almas de pobres em espírito, que se abandonam totalmente ao Senhor.

Francisco também acrescentou: “Quanto podemos aprender da conversão e do arrependimento dos nossos irmãos! Eles nos encorajam a fazer também nós um exame de consciência: eu, sacerdote, amo assim o Senhor, que me fez ministro da sua misericórdia? Eu, confessor, estou dispostos para a mudança, a conversão, como este penitente, ao serviço do qual fui chamado?”

Todos nós fomos constituídos ministros da reconciliação por pura graça de Deus, gratuitamente e por o amor, ou melhor, precisamente por misericórdia. Somos ministros da misericórdia graças à misericórdia de Deus; nunca devemos perder este olhar sobrenatural, que nos torna realmente humildes, acolhedores e misericordiosos para com cada irmão e irmã que pede para se confessar”.

No sacramento da confissão ou penitência, tanto um como outro, somos beneficiados pela graça misericordiosa de Deus, através do sinal sacramental que é a confissão. Não existe melhor estado de espírito do que sentir-se perdoado, pois para Deus não existe pecado que não tenha perdão. E como não recordar uma bela expressão do papa: “Deus nunca se cansa de perdoar, mas nós nos cansamos de pedir perdão”. Por isso que Francisco anunciou o “Ano Santo extraordinário da Misericórdia”, de 08 de dezembro 2015 a 20 de novembro 2016. Anunciar ao mundo que a misericórdia de Deus é o caminho da paz e da harmonia.

Que Deus te abençoe. Uma abençoada semana para você e sua família!

Dom Anuar Battisti 
Arcebispo de Maringá (PR)

sexta-feira, 20 de março de 2015

Por que rezar a Via-Sacra? O Papa Francisco dá 8 motivos

A Via-Sacra é uma antiga tradição da Igreja Católica que remonta ao século IV, quando os cristãos se dirigiam em peregrinação à Terra Santa.

Como muitas das nossas tradições católicas, a Via-Sacra pode ser rica, profunda e repleta de sentido, mas, ao mesmo tempo, podemos perder a visão do que ela significa e de como relacioná-la com a nossa vida cotidiana.

O Papa Francisco nos apresenta a seguir, oito motivos pelos quais, segundo ele, deveríamos rezar a Via-Sacra:

1. A Via-Sacra nos ajuda a colocar nossa confiança em Deus 

“Na Cruz de Cristo, está todo o amor de Deus, está a sua imensa misericórdia. E este é um amor em que podemos confiar, em que podemos crer. Confiemos em Jesus, abandonemo-nos a Ele, porque nunca desilude ninguém! Só em Cristo morto e ressuscitado encontramos a salvação e a redenção.”

2. A Via-Sacra nos mostra nosso lugar na história 

“E você qual destes quer ser? Como Pilatos, como o Cireneu, como Maria? Agora Jesus está olhando para você e lhe diz: Quer ajudar-me a carregar a Cruz? Irmãos e irmãs, com toda a sua força jovem, que lhe respondem?”

3. A Via-Sacra nos recorda que Jesus sofre conosco

“Na Cruz de Cristo, está o sofrimento, o pecado do homem, o nosso também, e Ele acolhe tudo com seus braços abertos, carrega nas suas costas as nossas cruzes e nos diz: Coragem! Você não está sozinho a levá-la! Eu a levo com você. Eu venci a morte e vim para lhe dar esperança, dar-lhe vida."

4. A Via-Sacra nos convida à ação

“Mas a Cruz de Cristo convida também a deixar-nos contagiar por este amor; ensina-nos, pois, a olhar sempre para o outro com misericórdia e amor, sobretudo quem sofre, quem tem necessidade de ajuda, quem espera uma palavra, um gesto; a Cruz nos convida a sair de nós mesmos para ir ao encontro destas pessoas e lhes estender a mão.”

5. A Via-Sacra nos ajuda a tomar uma decisão a favor de (ou contra) Jesus

“[A Cruz] revela um julgamento: Deus, ao nos julgar, nos ama. Lembremos disso: Deus nos julga amando-nos. Se eu aceito seu amor, então sou salvo; se o rejeito, então me condeno. Não é Ele que me condena, sou eu mesmo, porque Deus nunca condena, Ele só ama e salva.”

6. A Via-Sacra revela a resposta de Deus ao mal no mundo 

“A Cruz é a palavra por meio da qual Deus respondeu ao mal no mundo. Algumas vezes, parece que Deus não reage diante do mal, parece que fica em silêncio. No entanto, Deus falou, respondeu, e sua resposta é a Cruz de Cristo: uma palavra que é amor, misericórdia, perdão.” 

7. A Via-Sacra nos dá a certeza do amor de Deus por nós 

“O que a Cruz deu aos que olharam para ela, aos que a tocaram? O que a Cruz deixou em cada um de nós? Ela nos dá um tesouro que ninguém mais pode dar: a certeza do amor fiel que Deus tem por nós.”

8. A Via-Sacra nos guia da cruz à Ressurreição

“Ó Jesus, guiai-nos da Cruz à Ressurreição, e ensinai-nos que o mal não tem a última palavra, mas sim o amor, a misericórdia e o perdão. Ó Cristo, ajudai-nos a exclamar outra vez: 'Ontem fui crucificado com Cristo, hoje sou glorificado com Ele. Ontem morri com Ele, hoje vivo com Ele. Ontem fui enterrado com Ele, hoje ressuscito com Ele'.” 


(Discurso na Via-Sacra da JMJ 2013)

terça-feira, 3 de março de 2015

Entenda como é o mundo sobrenatural dos anjos

Que nossos olhos se abram para ver os anjos. “Não tenhas medo! Os que estão conosco são em maior número do que os que estão com eles” (2Rs 6,16). Todas as vezes que oramos ou cantamos em línguas, somos rodeados por miríades e miríades de anjos. Para entender melhor, vamos ler um trecho do Segundo Livro dos Reis, que fala a respeito de Eliseu. O rei de Aram estava em guerra contra Israel, e cada vez que ele deliberava com seus oficiais a colocação de uma emboscada, o homem de Deus mandava alguém avisar ao rei de Israel:

“Cuidado! Não passes por aquele lugar, pois os arameus estão ali emboscados”. O rei de Israel enviava então gente ao lugar acerca do qual o homem de Deus o avisara e ficava espreitando. Isso aconteceu nem uma nem duas, mas várias vezes. (cf. 2Rs 6,8-10) Ora, o rei da Síria estava enfurecido contra o povo de Deus e queria exterminá-lo. Começa, então, a armar ciladas.

Eliseu ia e avisava o rei de Israel: “Não vá por aquele lugar, pois o rei da Síria armou uma cilada”. O povo de Israel obedecia o que o Senhor falava pelo profeta, e o rei sírio fazia papel de bobo. Perturbado diante de tantas tentativas frustradas, mandou chamar seus servos e disse-lhes: “Há algum traidor em nosso meio. Toda emboscada que eu armo contra o povo de Deus é desfeita: o povo de Israel não passa por lá. Há alguém nos traindo aqui, porque eu não conto a ninguém os meus planos; apenas mando realizar as emboscadas, e o povo de Israel acaba sabendo”. Os servos explicaram: “Não, meu Senhor, não se trata de nenhum traidor; mas é o homem de Deus, Eliseu, que sabe todas essas coisas. O Deus de Israel lhe revela, e ele conta ao rei. Será inútil lutar contra eles, porque tem, em seu meio, o homem de Deus”.

O rei, em vez de se render diante da ação do Senhor, ficou mais enfurecido ainda e esbravejou: “Vamos cercar esse tal homem de Deus, Eliseu”. Então, ordenou que seus guerreiros procurassem pelo profeta e o cercassem. Isso, segundo o rei, deveria ser feito à noite, para que ninguém o soubesse. No dia seguinte, iniciaram o ataque. A Escritura nos conta assim: “Mandou para lá cavalos e carros e a parte mais forte do exército. Chegaram à noite e cercaram a cidade. Levantando-se ao amanhecer, o criado do homem de Deus saiu e viu o exército cercando a cidade, e os cavalos e os carros, e comunicou lhe: ‘Ai, meu senhor, o que faremos?’ Ele respondeu: ‘Não tenhas medo. Os que estão conosco são em maior número do que os que estão com eles’. Eliseu orou: ‘Senhor, abre-lhe os olhos para que veja’. E o Senhor abriu os olhos do criado, de modo que ele viu a montanha cheia de cavalos e carros de fogo em redor de Eliseu. (2Rs 6,14-17)

O que vemos aqui relatado não é uma exceção, é regra! Quando o povo é do Senhor, invoca-O e é fiel a Ele, acontece o mesmo que aconteceu com o profeta Eliseu. O que ele disse a seu servo, hoje o Senhor diz a nós: “Não tenhas medo! Os que estão conosco são mais numerosos do que os que estão com eles”.

Devemos saber que as forças do mal estão a nosso redor e o que querem é acabar conosco, atingir nossas famílias, desviar nossos filhos, destruir nossos casamentos e nossas comunidades. É um jogo sujo: o demônio semeia discórdia – um fala uma coisa, o outro entende ao contrário. Astuto, ele assim cria confusão e nos divide.

O diabo e seus anjos decaídos agem como o rei da Síria. Não fazem guerra, mas guerrilha; armam ciladas. Ninguém pode ser ingênuo. Covardemente, o inimigo atinge nossa família ou a nós mesmos em pontos fracos que, infelizmente, possuímos. Se seu ponto fraco é o “pavio curto”, você facilmente perde a paciência e se encoleriza. Se é a fragilidade no campo da pureza, da castidade, ele vai rastejar por aí até jogar você no chão. Porém, “Não tenhas medo! Os que estão conosco são mais numerosos do que os que estão com eles”. Guardemos essa certeza no coração.

Quem está conosco são os anjos de Deus. Enquanto os anjos malignos estão a nosso redor, querendo destruir-nos, assediando nossas casas e famílias, assediando-nos na rua, no trânsito, em nosso serviço e nos colocando em perigo, graças a Deus os que estão conosco, e em número maior, são os anjos de Deus. Veja como se deu o fato: percebendo que seu servo não estava tendo a visão espiritual e sentia medo, Eliseu pediu a Deus: “Abre-lhes os olhos, e que ele veja”. O Senhor abriu os olhos do servo e este viu um número imenso de carros de fogo e cavalos na montanha, ao redor de Eliseu. Se tivéssemos visão espiritual, iríamos nos ver rodeados de anjos, louvando a Deus, intercedendo e lutando a nosso favor.

Infelizmente, fomos os primeiros a relaxar e começamos a pensar que os anjos são coisas de criança. No momento em que deixamos de contar com eles a ponto de desacreditar de sua existência, abrimos espaço para a tentação, que entra para dominar e mentir. É urgente o resgate de nossa fé a respeito dos anjos.

O céu não é um lugar, mas é onde Deus está. E onde Ele está, os anjos e os santos estão próximos a nós. Nosso físico foi criado para viver num ambiente envolvido de oxigênio. Sem ele, começamos a nos sentir mal, perdemos forças, não temos mais reflexos. Igualmente, fomos feitos para viver num ambiente espiritual, respirando o “oxigênio espiritual”. Se não tomarmos posse dessa atmosfera sobrenatural, que está a nosso redor, daremos ao inimigo toda liberdade de usar falsificações.

Nossa própria sede das realidades espirituais – que foi posta em nós por Deus – acaba nos levando a procurar, em lugares errados, o sobrenatural de que necessitamos. É por isso que muita gente acaba se “bandeando” para o espiritismo em todas as suas formas, para as religiões afro, para o ocultismo e todo o tipo de práticas esotéricas.