sábado, 29 de novembro de 2014

Advento: O primeiro olhar é para a vinda definitiva do Senhor

A Igreja realiza sua missão evangelizadora no tempo e no espaço que a Providência de Deus lhe concede. Compete a ela a busca contínua da fidelidade ao seu Senhor, pois a visibilidade dos sinais da graça de Deus lhe foi entregue, enquanto esperamos a vinda gloriosa de Jesus Cristo. Seu Mistério Pascal de Morte e Ressurreição e o final dos tempos, quando virá para julgar os vivos e os mortos, são dois polos de tensão, com os quais buscamos a fidelidade ao Evangelho, praticando o amor a Deus e ao próximo, somos fermento de vida e esperança para o mundo e continuamos a anunciar o nome de Jesus Cristo, único e suficiente Salvador de todos os homens e mulheres que vierem a esta terra.

A sabedoria de Deus concedida à sua Igreja suscitou um caminho formativo amadurecido no correr dos séculos, o Ano Litúrgico, para manter viva esta tensão positiva, que gera testemunho de vida cristã e realização profunda para as pessoas. Tudo começou com o dia da Ressurreição, o Domingo, Páscoa semanal. A cada semana, tornar presente a Morte e a Ressurreição de Cristo, quando a Comunidade Cristã, reunida em torno da Palavra de Deus e da Mesa Eucarística, se edifica como Corpo de Cristo. À Eucaristia de Domingo os cristãos levam suas lutas e seus trabalhos, louvam ao Senhor e encontram o sustento para a fé, na vida quotidiana. As gerações que se sucederam começaram a celebrar anualmente a Páscoa do Senhor, hoje realizada de modo solene no que chamamos Tríduo Pascal, de quinta-feira santa ao cair da tarde até o Domingo de Páscoa, com seu ponto mais alto na grande Vigília Pascal. É Páscoa anual! Quando celebramos a Missa em qualquer tempo do ano, acontece a Páscoa diária. É o mesmo e único mistério de Cristo. Não fazemos teatro, mas realizamos a presença do Senhor, que entregou à Igreja a grande tarefa: “Fazei isto em memória de mim” (1 Cor 11, 24-25).

Como é grande o Mistério, o Ano Litúrgico veio a se compor pouco a pouco, contemplando anualmente todos os grandes eventos de nossa Salvação, enriquecendo com abundância de textos bíblicos as grandes celebrações, valorizando as orações que foram compostas e expressam a vivência da fé, recolhendo nos diversos ritos a grandeza da vida que o Senhor oferece. O Ano da Igreja, que começa no Primeiro domingo do Advento, em 2014 celebrado no dia 30 de novembro, tem dois grandes ciclos, o do Natal e o da Páscoa, com os quais somos pedagogicamente conduzidos a aperfeiçoar a vida cristã, de forma que o Senhor nos encontre, a cada ano, não girando em torno de um mesmo eixo, mas crescidos, como uma espiral que aponta para a eternidade, enquanto clamamos “Vem, Senhor Jesus”!

E o Tempo do Advento, que agora iniciamos, é justamente marcado pela virtude da esperança, que somos chamados a testemunhar e oferecer ao nosso mundo cansado, pois só em Jesus Cristo, única esperança, encontrará seu sentido e realização a vida humana. A Igreja nos propõe quatro semanas de intensa vida de oração e de exercício das virtudes. O primeiro olhar é para a vinda definitiva do Senhor, que um dia virá ao nosso encontro, cercado de glória e esplendor. É hora de refletir sobre a relatividade das coisas e preparar-nos para o encontro pessoal com o Senhor, quando nos chamar à sua presença. Em seguida, durante duas semanas a Igreja nos faz olhar para o tempo presente de nossa fé. Ouvimos o convite à conversão, somos levados a arrumar a casa de nossa vida para a grande presença do Senhor. Aquele que um dia virá, vem a nós nos dias de hoje. Para ajudar-nos, a Igreja apresenta duas figuras, que podem ser chamadas de “padrinhos” de Advento, o Profeta Isaías e São João Batista. Na última semana antes do Natal, aí, sim, nosso olhar se volta para Belém de Judá, Presépio, Pastores, Reis Magos. É a oportunidade para preparar a celebração do Natal. Quem nos toma pela mão na etapa final do Advento, para acompanhar os acontecimentos vividos em primeira pessoa, é a Virgem Santa Maria, Mãe de Deus e nossa. Daí a necessidade de corrigir com delicadeza nosso modo de viver este período. Maior do que o dia de Festa no Natal é a realidade do Senhor Jesus que virá, vem a nós e um dia veio! Torna-se vazia uma festa sem a presença daquele que é o coração da história humana, nosso Senhor Jesus Cristo.

Uma Igreja em estado de Advento é o que queremos oferecer-nos mutuamente e dar de presente ao nosso mundo. Estimulemos uns aos outros na vivência da esperança, certos da necessidade da redenção de Cristo, que nos diz “sem mim, nada podeis fazer” (Jo 15, 5). Cresça nossa abertura, cheia de esperança, a Cristo e à sua Palavra Salvadora. Caiam todos os obstáculos e defesas, venha a graça da fidelidade ao Senhor. E a vida cristã não tenha receio de olhar para a eternidade, onde Cristo está sentado, à direita do Pai (Cf. Ef 1, 20-23). Temos uma eternidade inteira para viver na Comunhão com a Santíssima Trindade, os Anjos e os Santos. É nossa vocação e nosso ponto de chegada. Com esta luz, os cristãos são chamados a serem homens e mulheres capazes de iluminar com a esperança todos os recantos da humanidade. A graça da vocação cristã nos faça responsáveis pelo anúncio do Evangelho e pela salvação dos outros (Cf. Rm 8, 29). Ninguém fique desanimado, desde que encontre um cristão autêntico, mesmo que este saiba ser limitado, tantas vezes frágil e marcado pelo pecado, mas nunca derrotado.

As pessoas que tiverem contato com os cristãos neste período, descubram-nos rezando mais e rezando melhor. As Novenas de Natal, celebradas em grupos de famílias, são um excelente testemunho de vida de oração. Seja uma oração cheia de humildade, sinceridade, abertura maior para Deus e obediência às suas promessas.

E como falamos de esperança, temos o direito e o dever de sonhar com um mundo mais justo e fraterno. Queremos antecipá-lo, em estado de Advento, na experiência da caridade e da partilha dos bens. Em nossa Arquidiocese de Belém, realizamos durante o Advento o projeto “Belém, Casa do Pão”. Cresce a cada ano, ao lado do compromisso de nossas Paróquias, a adesão da sociedade ao nosso modo de comprometer as pessoas com a partilha dos bens, realizando a vocação que se encontra em nosso nome, Belém!

2015 será o Ano da Paz

Até a celebração do Natal em 2015, vamos vivenciar o Ano da Paz
A Igreja Católica decidiu, durante a Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), promover um Ano da Paz. Essa decisão importante fundamenta-se na urgência de unir esforços para transformar a realidade e lutar, incansavelmente, na promoção da paz, que é um dom de Deus, entregue aos homens e mulheres de boa vontade pelo Príncipe da Paz, Jesus Cristo, Salvador e Redentor.

Ao investir na promoção do Ano da Paz, a Igreja, a partir de sua tarefa missionária de anunciar Jesus Cristo e seu Reino, empenha-se e busca sensibilizar outros segmentos da sociedade para enfrentar a violência, que atinge de modo arrasador a vida, a dignidade humana e as culturas. Uma fonte de sofrimento que ameaça o futuro da humanidade, com graves consequências para diferentes povos e sociedades. Ao promover o Ano da Paz, a CNBB aciona a grande rede de comunidades de fé que forma a Igreja no Brasil para que, em parceria com outras instituições, seja cultivada uma consciência cidadã indispensável na construção de uma sociedade sem violência. Para isso, conforme ensina Jesus no Sermão da Montanha, é necessária a vivência de uma espiritualidade que capacite melhor os filhos de Deus, tornando-os construtores e promotores da paz.

Trata-se de um percurso longo a ser trilhado, uma dinâmica complexa a ser vivida, para que o coração humano torne-se coração da paz. O Papa Francisco, na sua Exortação Apostólica Alegria do Evangelho, sublinha que, enquanto não se eliminarem a exclusão e a desigualdade dentro da sociedade e entre os vários povos, será impossível erradicar a violência que, venenosamente, consome vidas, mata sonhos e atrasa avanços.

A vivência do Ano da Paz é uma tarefa que deve ser assumida pelos homens e mulheres de boa vontade, empenhados no trabalho de contribuir para que cada pessoa se reconheça como um coração da paz. Esse serviço deve ser vivido de modo criativo, sem enrijecimentos ou complicações, valendo-se de estruturas, instituições, especialmente as educativas e os meios de comunicação. No exercício dessa tarefa, é preciso cultivar uma espiritualidade que determina rumos. Ao mesmo tempo, torna-se imprescindível exercitar a intrínseca dimensão política de nossa cidadania, lutar pelo estabelecimento de dinâmicas e processos que ajudem a avançar na erradicação dessa assombrosa e crescente onda de violência que se abate sobre nossa sociedade, provocada, de certo modo, pela mesquinhez que caracteriza o mundo atual.

A vivência do Ano da Paz, ainda que sem impactantes eventos, é a esperança de que as ações simples e cotidianas, de cada pessoa, podem provocar grandes mudanças, especialmente as culturais, que contribuem para a manutenção da violência. No Brasil, por exemplo, as estatísticas mostram que, anualmente, o número de homicídios é equivalente ao de guerras pelo mundo afora. Não se pode abrir mão de análises profundas com força sensibilizadora, capaz de despertar certa indignação sagrada e cidadã. Também são importantes os debates em congressos, seminários e outras modalidades, aproveitando oportunidades variadas para se falar do tema da violência e suas consequências, que acabam com tudo – inclusive com a possibilidade de se partilhar ocasiões festivas.

A ausência da paz inviabiliza, por exemplo, que os diferentes partilhem momentos de festa nos estádios de futebol, de modo saudável, alegre e fraterno. Infelizmente, prevalecem situações de selvageria nos estádios e nas ruas. A violência se faz presente também no ambiente das empresas, escritórios e, abominavelmente, no sacrossanto território da família, pela agressividade contra as mulheres. A ausência da paz nos lares, o desrespeito às mulheres, impede que crianças e jovens desfrutem do direito insubstituível de ter uma família, escola do amor e humanização.

Que o Ano da Paz comece sempre pelo exercício eficaz de se silenciar, em comunhão com os membros da própria família, nos escritórios, salas de aulas, nas igrejas, nas reuniões e em outros grupos. Um minuto de silêncio pode fazer diferença no cultivo da paz no próprio coração, tornando-o um coração da paz. Nesse caminho, cada pessoa se qualifica para atuações mais comprometidas na mudança de cenários, valorizando os pequenos gestos e as pequenas mudanças na construção da grande e urgente transformação cultural, um “passo a passo” para vencer a violência. Do tempo do Advento – preparação para o Natal deste ano – até a celebração do Natal em 2015, vamos vivenciar o Ano da Paz, oportunidade para cultivar uma densidade interior. Essa experiência permitirá a todos, no dia a dia, em diferentes oportunidades, com gestos e ações, contribuir para o novo advento, a paz entre nós.

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

O que é a solenidade de Cristo Rei?

Reis e rainhas não servem de modelo para a representação gloriosa de Jesus



A última solenidade do ano litúrgico da Igreja nos coloca frente à realeza de Jesus. Criada em 1925, pelo Papa Pio XI, esta festa litúrgica pode parecer pretensiosa e triunfalista. Afinal, de que realeza se trata?

Para superar a ambiguidade que permanece, precisamos ir além da visão do Apocalipse, cujo hino na segunda leitura canta que “Jesus é o soberano de todos os reis da terra”. Ora, reis e rainhas não servem de modelo para a representação gloriosa de Jesus. Mesmo que seja para colocá-Lo acima de todos os soberanos. Riquezas, palácios, criadagem e exércitos não são elementos que sirvam para exaltar a entrega de Jesus por nós. Jesus está na outra margem, Ele é a antítese da realeza da riqueza e do poder. Não é por acaso que os evangelhos da liturgia de hoje, nos ciclos litúrgicos A, B, e C da Igreja, sempre nos colocam no contexto da Paixão de Jesus para contemplar Sua realeza.

Jesus foi Rei, durante sua vida, em apenas dois momentos: ao entrar em Jerusalém como um Rei pobre, montado em um jumento emprestado e ao ser humilhado na Paixão, revestido com manto de púrpura-gozação e capacete de espinhos; Rei ao morrer despido e com o peito traspassado na cruz. Rei da paz e Rei do amor sem limite até a morte. A realeza de Jesus é a realeza do Amor Ágape de Deus por toda a humanidade e por toda a criação.

Esta festa é ocasião propícia para podermos reconhecer, mais uma vez, que na cruz de Jesus o poder-dominação, o poder opressor, criador de desigualdades e exclusões, espalhador de sofrimento por todos os lados, está definitivamente derrotado. Isso se deu pelo seu modo de viver para Deus e para os outros. O fracasso na cruz é a vitória de Jesus sobre o mal, o pecado e a morte, por meio de Sua Ressurreição.

Essa festa se torna então reveladora de um tríplice fundamento para a nossa esperança de que as promessas de Deus serão cumpridas até o fim.

O surgimento da matéria e sua evolução, desde o big-bang ─ quando toda a energia do Universo se concentrava em um único ponto menor do que o átomo ─ são o primeiro fundamento de nossa esperança.

Deus é criador respeitando as leis daquilo que criou. Nós nos damos conta de que a soberania d’Ele vem se cumprindo num Universo em expansão, uma vez que a evolução da matéria atingiu seu ponto ômega ao dar à luz Jesus de Nazaré, por meio de Maria, porque n’Ele está a Humanidade humanizada para todos os homens e mulheres, de todas as gerações.

O segundo fundamento é a pessoa de Jesus de Nazaré. O sonho de uma humanidade humanizada ─ tornada aquilo que ela é ─ vem expresso na primeira leitura do livro de Daniel, na figura de um Filho de Homem ─ figura antitética dos filhos de besta, filhos da truculência, dos povos pagãos que oprimiram Israel com seus exércitos. O sonho tornou-se realidade em Jesus Cristo. Ele nos humaniza com a Sua divindade: nunca Deus esteve tão perto de nós, sendo um de nós e sem privilégios; mas também sem crimes nem pecados (cf. epístola aos Hebreus). Jesus nos diviniza com a sua humanidade, tão humano que é, que só pode vir de Deus e ser d’Ele mesmo.

O terceiro fundamento de nossa esperança é a comunidade eclesial de fé, dos amigos e discípulos de Jesus. Olhando essa grandeza, entendemos o sentido último de nosso batismo, pois na realeza de Jesus fomos batizados para sermos reis e rainhas; no sacerdócio de Jesus, para sermos sacerdotes e sacerdotisas; no profetismo de Jesus, para sermos profetas e profetisas, para viver segundo o imperativo da Palavra de Deus revelada em Seu Filho.

A soberania dessa realeza consiste no serviço da cultura da paz e da solidariedade, da compaixão e da fraternidade. O poder que corresponde a essa realeza é o do exercício da autoridade que serve, para fazer o milagre da diversidade tornar-se unidade.

No sacerdócio de Jesus nos unimos à Sua missão de gastar a vida pelos demais. Sabemos por Ele qual o modo de existir que nos conduz à vida verdadeira; qual a religião que agrada a Deus. A esperança posta no sacerdócio de Jesus é também certeza de que a vida gasta por compaixão e solidariedade é a vida feliz e bem vivida.

Nossa esperança é profética, pois a força da Palavra inaugura o futuro. “Apesar de você, amanhã há de ser outro dia…”, cantava Chico Buarque nos anos da ditadura. Era a palavra do poeta vencendo a força bruta. Vivendo o tempo presente no coração da comunidade de fé, que é a Igreja, sentimos que uma força maior se move em nós, nos comove para abrir-nos em direção ao futuro, pois nossa esperança não se funda somente em Deus, sentido radical do futuro ou, como diz o provérbio, que “o futuro a Deus pertence”. Mas é o Senhor mesmo a quem esperamos e quem nos espera no futuro. Isso que é ter esperança: esperar Deus mesmo!

A festa de hoje nos faz contemplar a existência do universo, necessária para que surgisse o grande presente de Deus oferecido a toda a criação, que é Jesus. Desta forma, nossa esperança se sustenta também nos cantos dos bem-te-vis e sabiás; nas rosas e margaridas; nas crianças e nas borboletas; nos homens e mulheres de boa vontade; nas pedras e nos vulcões; nas nuvens, na lua e nos planetas; nas estrelas e nas galáxias. Se existe tudo isso e não o nada, nossa esperança tem pé, cabeça e coração.

Assim, como São Paulo, vivemos na esperança, mas sabendo de seu tríplice fundamento: aquele da evolução do universo, que culminou em Jesus, pelo dom de Maria; aquele que é Jesus, que por nós se doou na cruz, abrindo para nós um modo de viver para Deus e para os outros, que é verdadeira salvação; e aquele que é a Igreja, a nossa comunidade de fé, que nos lança e sustenta na abertura radical ao futuro, esperando Deus que vem e que nos acolhe com amor infinito, por meio do seguimento de Seu Filho, por quem recebemos a vida e a plenitude da graça de Deus.

Apresentação de Maria no Templo: sejamos também templos vivos de Deus!

Falar sobre a festa da Apresentação de Nossa Senhora no templo é uma tarefa apesar de um pouco difícil (pois não há vastos escritos sobre essa festa, a maioria das fontes são textos apócrifos) é muito gratificante para mim, pois Deus em sua amorosa providência quis que eu nascesse neste dia, começando a minha vida já marcada pela presença e cuidado de Nossa Senhora.

Tentarei nestas breves linhas refletir sobre o significado desta festa, que está intimamente ligada aos mistérios da vida de Maria e ao Plano que Deus tinha para Ela.

História
A Sagrada Escritura não relata o nascimento de Maria Santíssima nem o episódio da sua apresentação no templo. Entretanto, muitos escritos apócrifos (em particular o Proto-evangelho de São Tiago) e a Tradição, narram, com muitos detalhes, que a Santa Menina, a pedido seu, foi levada por seus pais, Joaquim e Ana, ao templo na idade de três anos, onde se consagrou em corpo e alma ao Senhor.

Segundo a mesma tradição apócrifa Ela teria ali permanecido até os doze anos, saindo apenas para ser desposada por São José.

A origem da festa da apresentação de Maria Santíssima no Templo está ligada à dedicação da Igreja de Santa Maria a Nova, construída perto do templo de Jerusalém no ano 543. Por isso é uma das festas mais apreciadas no Oriente. Para os orientais a Theotòkos (Mãe de Deus) é um verdadeiro templo no qual Deus, rejeitado o antigo culto, colocou a sua salvação.

Sentido da festa
A Liturgia das Horas de hoje sintetiza e nos dá um ponto de partida para aprofundarmos no sentido da festa: “... consagração que Maria fez a Deus de si mesma desde a infância, movida pelo Espírito Santo, de cuja graça ficara plena na sua imaculada conceição”.

Com sua apresentação no Templo, Maria quer fazer explícito aquilo que já estava presente desde a sua concepção: que Ela era totalmente de Deus, toda pura, consagrada desde o ventre de sua mãe (Ver Jr 1, 5). Esse desejo de ser totalmente de Deus está profundamente ligado à sua missão especial: ser a Mãe de Jesus, ser a nossa Mãe.

Podemos perceber nesta festa o que já havia no coração de Maria: a intenção de ser Virgem, totalmente consagrada a Deus. Esta consagração dá sentido à outra celebração do dia de hoje:Dia das Religiosas de Clausura. Aquelas mulheres, que como Santa Maria no silêncio e na oração se dedicam totalmente a Deus e à salvação da humanidade.

São João Paulo II em uma de suas audiências ressaltou a importância destas vocações e nos convidou a sempre rezar por elas: “Devemos muito, efetivamente, a estas pessoas que se consagram inteiramente à oração incessante pela Igreja e pelo mundo!”

Por último, como fruto dessa apresentação, da sua plena entrega e fidelidade ao Plano de Deus e união ao seu Filho Jesus, Maria recebe o prêmio definitivo, antecipando o nosso destino final: é assunta ao céu.

Como Maria, nós também podemos ser templos vivos de Deus
Nós também, em muitos casos, até mais jovens que Maria também fizemos uma consagração especial a Deus. Existe até uma tradição de fazer uma consagração e depois o Batismo. Gostaria de refletir agora com vocês, iluminados pelo exemplo de Maria, o seguinte: sou consciente do que implica ser consagrado, ser um batizado? Vivo a minha vida cristã em coerência com o meu Batismo? Faço da minha vida, nas palavras de São Paulo, um “sacrifício vivo, santo, agradável a Deus” (Rm 12,1)?

Eu partilho com vocês que fruto dessa reflexão, decidi consagrar totalmente a minha vida a Deus, buscando seguir o exemplo de Cristo e de Maria. Descobri esse como o meu caminho de santidade e felicidade. Outros encontrarão através do matrimônio, onde os dois juntos se consagram a Deus a fim de construir uma família edificada na fé, uma Igreja doméstica. O importante é que tenhamos a consciência que todo cristão batizado está chamado e pode ser santo. É possível percorrer o mesmo caminho que Maria.

E como posso fazer isso? O Papa Francisco em sua última audiência nos deu dicas muito práticas de como percorrermos o caminho da santidade, dando pequenos passos.

Peçamos a Deus a graça de vivermos consagrados a Ele como o fez Maria, tendo uma vida cada vez mais plena de amor.

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Entenda como é definido Calendário Litúgico


Existe um tempo litúrgico e um tempo comum. O tempo comum mede apenas a nossa história humana, com seus acontecimentos. O tempo litúrgico, porém, indica também os sinais da presença e da ação de Deus em nossa vida e em nossa história.

Na língua grega existem duas expressões, que servem para distinguir esses tempos: “crónos” e “kairós”. “Crónos” significa o nosso tempo comum, que vai do nascimento até a morte. “Kairós”, pelo contrário, indica a presença misericordiosa de Deus na história humana, a sua intervenção constante para libertar o ser humano dessa degeneração inevitável, e que chegou ao ponto de doar o seu próprio Filho, para nos libertar da morte e nos fazer participar de sua Ressurreição.

“Kairós” é o tempo de Deus dentro do tempo da nossa vida. É uma presença tão forte, que nos liberta do “Crónos” e faz com que cada segundo que fica para trás se transforme num sinal de esperança. A Ressurreição de Jesus fez com que o tempo humano não seja mais um círculo repetitivo nem uma linha decadente, mas uma espiral ascendente, que nos vai levando em direção a Ele.

Na Liturgia, o Tempo litúrgico é medido pelas celebrações do Ano litúrgico. Há um Tempo Próprio, composto de 21 semanas, que celebra a História e a Vida de Jesus pela sua Igreja e pela humanidade. Divide-se em dois ciclos: o ciclo do Natal, que se inicia no primeiro Domingo do Advento e termina na festa do Batismo de Jesus. E o ciclo da Páscoa, que começa na Quarta-feira de Cinzas e se encerra com a festa de Pentecostes.

E há um Tempo Comum, de 34 semanas, que celebra a Vida da Igreja com Jesus e louva à Trindade pela santificação que a Redenção de Jesus realizou e continua realizando na vida de tantas pessoas, no passado e no presente. Fazemos então a lembrança festiva dos santos e a celebração dos fatos da vida da Igreja. É um tempo que vai desde a Festa da Santíssima Trindade até a Festa de Cristo Rei.

No centro do Tempo litúrgico está Jesus Ressuscitado e o coração de todas as celebrações é sempre a Eucaristia, a grande e contínua Ação de Graças pela vida, pelo sacrifício e pela Ressurreição de Jesus. É Ele a quem recordamos, é Ele que se faz presente em nossas celebrações, é com Ele que nos unimos e comprometemos a nossa vida, e é com Ele que sonhamos, ao anunciar a sua segunda vinda. Aleluia!​

Você tem valorizado o amor e a presença de Deus?

Jerusalém representa cada um de nós, amados e queridos aos olhos de Deus. Mas não sabemos, muitas vezes, corresponder a esse amor. Que Jesus não precise chorar por nós!


“Naquele tempo, quando Jesus se aproximou de Jerusalém e viu a cidade, começou a chorar” (Lucas 19,41).

Jerusalém é a cidade amada e bem edificada, a cidade celestial no meio de nós, porque foi o local que Deus escolheu para habitar em meio aos homens, em meio a nossa humanidade. A cidade que foi pensada, construída pelo Rei Davi têm um significado espiritual simbólico muito profundo.

Hoje, as três grandes religiões da humanidade têm em Jerusalém o seu lugar por excelência de culto. Voltando aqui para a nossa fé cristã, Jerusalém é a cidade do grande Rei, é a cidade onde Nosso Senhor Jesus Cristo ia todos os anos. Foi lá que Ele se perdeu no Templo. Mas a particularidade de Jerusalém não está aí, está no fato de não acolher, não receber, não dar valor às visitas que Deus fez a ela.

Jerusalém foi a cidade que Jesus amou por excelência, mais do que todas as outras, mas ela é o exemplo do Amor não amado, do Amor rejeitado, do Amor não querido. Jerusalém representa cada um de nós, amados e queridos aos olhos de Deus, pois não sabemos, muitas vezes, corresponder a este amor que Ele tem por nós. “Porque tu não reconheceste o tempo em que foste visitada” (Lucas 19, 44).

Sabe, meus irmãos, um dia nós choraremos muito, nos arrependeremos, porque Deus tomou muitas iniciativas de nos visitar, de se fazer presente em nossa vida. Se você olhar, sinceramente, para a sua história, para sua casa e para sua família, verá quantas vezes já foi visitado por Deus, quantas vezes Ele já o marcou, já lhe disse: “Você é meu! Você me pertence!”.

Houve em Jerusalém um sentimento de rebeldia e a cidade se rebelou contra Deus. Sim, nós nos rebelamos, distanciamo-nos de Deus por qualquer coisa que pareça melhor e mais agradável. Arrumamos desculpas, culpamos as pessoas, as situações e o tempo, mas a verdade é que nós não valorizamos a visita, a presença e o amor de Deus manifestado em nossa vida.

Que Jesus não precise chorar por nós! É melhor chorarmos, ainda nesta vida, de arrependimento, de comoção, de reconhecimento por termos nos afastamos de Deus, por corremos d’Ele, por não valorizarmos Sua presença em nossa vida, do que deixar para chorar na eternidade. Aqui, na Terra, o choro ainda pode ser consolado, as nossas lágrimas podem se transformar em conversão, mas o choro na eternidade será de desespero. Deus nos visitou tantas vezes, fez-se presente em nossa vida, mas nós não O valorizamos; ao contrário, nós desprezamos o amor infinito e eterno que Ele tem por nós.

Deus abençoe você!

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Papa Francisco convida fiéis à santidade e pede fim da violência na Terra Santa

Na catequese semanal apresentada nesta quarta-feira. 19, o Papa Francisco falou sobre a vocação à santidade de todos os cristãos. O Santo Padre fez ainda um apelo pela paz em Jerusalém e pediu orações pelas comunidades religiosas de clausura.

No início de sua fala, o Papa destacou que o Concílio Vaticano II deixou como grande herança a afirmação de que todos os batizados possuem uma mesma dignidade e uma mesma vocação universal à santidade. Francisco frisou então que ser santo não é uma prerrogativa oferecida só para alguns escolhidos e nem significa ser dotado de uma capacidade especial, mas um dom concedido gratuitamente por Deus a cada pessoa.

“Por isso, para tornar-se santo, não é preciso ser bispo, padre ou religioso”, afirmou. “Mas todos e cada um dos batizados são chamados a viver no amor e a oferecer o seu testemunho cristão nas ocupações cotidianas”, acrescentou.

O Pontífice explicou também que a santidade tem um significado diferente para cada pessoa. “Para alguém que é casado, ser santo significa amar o seu cônjuge como Cristo amou a Igreja. Para um catequista, educador ou voluntário ser santo é possível, tornando-se sinal visível do amor de Deus e da sua presença junto de nós”, frisou.

Ao final da catequese, o Santo Padre pediu que todas as pessoas façam um exame de consciência sobre como estão respondendo a este chamado de Deus.

Francisco finalizou sua palavra exortando aos fiéis que o chamado à santidade não quer tornar a existência humana pesada e triste mas é “um convite a viver na alegria cada momento da nossa vida”.

Na próxima sexta-feira, 21, a Igreja recorda a Memória Litúrgica da Apresentação de Maria Santíssima no Templo. Para essa data, o Santo Padre lembrou que será celebrada a Jornada pro Orantibus, dedicada às comunidades religiosas de clausura. “É uma ocasião oportuna para agradecer ao Senhor o dom de tantas pessoas que nos mosteiros se dedicam a Deus na oração e no silêncio operante, reconhecendo-lhe aquele primado que só a Ele diz respeito. Agradeçamos ao Senhor pelos testemunhos de vida de clausura e não lhes façamos faltar o nosso empenho espiritual e material, para cumprir tal importante missão”, destacou.

Depois da catequese semanal, o Papa falou sobre o ataque contra uma sinagoga em Jerusalém, pedindo o fim destes atos “inaceitáveis”.

“Do fundo do coração, dirijo às partes envolvidas um apelo, para que se ponha fim à espiral de ódio e de violência e se tomem decisões corajosas pela reconciliação e pela paz”, declarou, na parte final da audiência pública semanal que decorreu na Praça de São Pedro.

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Catequese: Lições para um músico adorador

“Cada um de nós tem uma história e de repente aqui estamos nós, cada um por um caminho veio e hoje estamos todos juntos guiados pelo Espírito de Deus.”

Fomos convocados pelo Espírito Santo para formar este exército de músicos adoradores. É da adoração que surgem em nossos corações as inspirações artísticas para o nosso ministério.O Senhor nos convocou por isto estamos aqui.

Todos nós fazemos parte deste povo escolhido pelo Senhor que providencialmente preparou a liturgia de hoje. As leituras de hoje e o salmo foram providenciais. O Evangelho de hoje nos guia na liturgia para os próximos dias que nos fazem olhar para o fim dos tempos.

A Palavra de Deus hoje nos conduz a esta identidade de adoradores. Nunca como agora a sociedade esteve tão acelerada e tão fragilizada. Os riscos que cada nação corre quando um pequeno povo declara guerra. Nunca como agora estivemos tão conectados. Acabamos nos conectando com uma multidão de pessoas, mas nas horas mais necessárias você se descobre sozinho.

Andamos como se o mundo caminhasse de qualquer jeito, sem que houvesse um objetivo. O Senhor na palavra de hoje nos dá um exemplo de Noé e quem ele era? Era considerado o amigo de Deus. “Um amigo fiel é poderosa proteção”, é esta amizade com HomiliaDeus que nos faz nos sentir tão unidos a ele que não importa o que os outros pensam.

Faz parte do músico a sensibilidade exagerada, o músico que não tem esta característica não sabe transbordar a unção do que compõe e canta. Quando perdemos esta qualidade perdemos a beleza do nosso serviço. Porém precisamos voltar esta sensibilidade ao Senhor. Atenção! Noé aqui não é o do filme lançado a pouco tempo, o qual deturpa a verdadeira identidade deste homem bíblico.

Jesus cita Noé propositalmente, o homem que teme a Deus deve ser obediente a Palavra de Deus. Os músicos adoradores precisam salvar pelo menos a sua própria família. Se a sua canção, a sua sensibilidade não alcança aqueles que moram com você fica difícil. É preciso começar exatamente da nossa própria casa.

O pedido de Deus para você hoje é: “Seja meu amigo, meu intimo, meu comensal, não seja apenas alguém que me visita, mas alguém que me frequenta, não apenas passe por mim, seja meu amigo assim como Noé”. Faça uma prece por sua família agora. Pare um instante e ore por eles.

O Senhor também cita outro nome no Evangelho, Lot que não soube conviver com Abraão. O músico adorador que não sabe viver em comunidade precisa compreender que algo não vai bem. O irmão nos completa, nos ajuda. Quantas paróquias vivem em disputa, outas vezes as intrigas acontecem dentro do próprio ministério.

Conviver é um sacrifício. Quanto mais difícil for o irmão que Deus colocou a seu lado, melhor, será um tempo a menos de purgatório para você. Preciso aprender a conviver, do contrário as consequências são terríveis. Lot não conseguiu ter comunhão com Abraão, escolheu a terra que queria morar pelas aparências. Por intercessão de Abraão, Lot foi visitado por um anjo que o mandou sair da terra que havia escolhido. Ao sair , sua esposa olhou para trás desobedecendo a Palavra e se transformou numa estátua de sal.

É impossível dizer que uma pessoa é adoradora se ela não sabe conviver. Se você não está enxergando a Deus nas pessoas que te incomodam é porque você tem adorado pouco.O ser adorador me faz viver em comunhão, não podemos nos deixar arrastar pela aparência. Existem ministérios que pensam que só serão um ministério de música se gravarem um CD. Depois que tudo foi feito lembram-se de rezar. Lot seduzido levou sua família para o buraco. Você que é ministro de música casado precisa dar testemunho para sua esposa e seus filhos primeiro.

Precisamos estar prontos. Se observarmos a vida dos santos perceberemos que eles estavam prontos o tempo todo.

“Quem procura ganhar a sua vida vai perdê-la; e quem a perde vai conservá-la”. O senhor aqui faz um alerta muito importante a cada um de nós. Chegará o dia em que o Senhor voltará para julgar os vivos e os mortos e seremos separados.

O músico adorador não pode temer inimizade com aqueles que não amam o Senhor. O Senhor voltará, nós fazemos parte de uma Igreja a qual o seu fundador foi assassinado, enterrado e ressuscitou e Ele voltará. Por isto devemos estar preparados, e estar preparado é estar cumprindo nossa missão. Cada um de nós precisamos levar pessoas ao encontro com Jesus. Quem se expõe mais tem um número maior de almas para levar para Deus. Se chegarmos diante do Senhor e o número não estiver completo não entraremos no céu.

Quem tem Deus transborda alegria. Você é chamado como adorador a ser ímã para quando o Senhor voltar ter grande número de pessoas junto a você na espera Dele.

Abra o coração para tudo o que o Senhor quer fazer em você. O senhor quer modelar nosso coração com suas mãos de artista. Quero pedir a Deus a graça de que você seja uma pessoa orante, seja como Noé amigo fiel a Deus.


Padre Delton Filho - Comunidade Canção Nova

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Igreja e Sociedade: a Campanha da Fraternidade de 2015

Em 2015, a Igreja Católica Apostólica Romana celebra o 50º aniversário de encerramento do Concílio Vaticano II, realizado de outubro de 1962 a outubro de 1965. Tratou-se do evento mais marcante da Igreja no século 20. 

A comemoração deste aniversário está sendo ocasião para recordar personalidades importantes do Concílio, como os papas João XXIII e Paulo VI; mas também para voltar às grandes intuições e orientações dessa “assembleia geral” do episcopado católico de todo o mundo. De fato, os ensinamentos conciliares ainda estão longe de serem plenamente postos em prática, embora um caminho significativo já tenha sido percorrido nesses 50 anos.

No Brasil, diversos eventos vêm sendo realizados em âmbitos acadêmicos e eclesiais, nos últimos 3 anos, para comemorar esse cinquentenário. Para 2015, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) está promovendo uma reflexão mais ampla, em nível popular, sobre o Concílio, através da Campanha da Fraternidade (CF). Com o tema - “Fraternidade: Igreja e Sociedade” –, e o lema – “Eu vim para servir” –, a Campanha aborda a relação Igreja-sociedade à luz da fé cristã e das diretrizes do Concílio Vaticano II.

A CF parte de dois pressupostos fundamentais para a vida cristã e centrais no Concílio: a auto-compreensão da própria Igreja; as implicações da fé cristã para o convívio social e para a presença da Igreja no mundo. Em outubro de 1963, na abertura da segunda sessão do Concílio, o papa Paulo VI expressou isso nas duas perguntas feitas no seu discurso aos participantes: Igreja, que dizes de ti mesma? Igreja, dize qual é tua missão? Os 16 documentos conciliares respondem a essa dupla interpelação.

De fato, o Cristianismo, vivido pela Igreja Católica, é uma religião histórica e não apenas sapiencial, embora também tenha esta conotação. Além de transmitir ensinamentos a serem acolhidos pessoalmente, sua proposta também é levar a uma prática social e histórica, onde suas convicções e ensinamentos sejam traduzidos em expressões de cultura e formas de convívio social.

A auto-compreensão da Igreja aparece, sobretudo, no documento conciliar Lumen gentium (A luz dos povos): ela entende ser formada por todos os que aderem a Cristo pela fé no Evangelho e pelo batismo; assim, mais que uma instituição juridicamente estruturada, que não deixa de ser, ela é um imenso “povo de Deus”, presente entre os povos e nações de todo o mundo, não se sobrepondo a eles, mas inserindo-se neles, como o sal na comida, ou como o fermento na massa do pão. Portanto, a identificação pura e simples da Igreja com os membros da hierarquia é insuficiente e inadequada; ela é a comunidade de todos os batizados, feitos discípulos de Jesus Cristo e testemunhas do seu Evangelho.

A partir desse princípio, entende-se que uma das grandes questões assumidas pelo Concílio tenha sido a superação da visão dicotômica - “Igreja-mundo”. Isto se desdobra no esforço da Igreja de abrir-se ao diálogo com o mundo, de estabelecer uma relação fecunda com as realidades humanas, acolher o novo e o bem que há em toda parte, partilhar as próprias convicções, contribuindo para a edificação do bem comum, colocando-se ao serviço do mundo, sem ser absorvida por ele.

O documento conciliar que melhor expressa esta postura é a Constituição Pastoral Gaudium et spes (A alegria e a esperança...), aprovado e promulgado por Paulo VI em 1965, às vésperas do encerramento do Concílio. Este texto denso inicia com as palavras paradigmáticas: “a alegria e a esperança, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos os que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo”.

Nele aparece a visão cristã sobre o mundo e o homem, sua dignidade, sua existência e sua vocação; reflete-se sobre a comunidade humana e as relações sociais, o sentido do trabalho e da cultura e sobre a participação da Igreja, enquanto “povo de Deus” inserido na sociedade, na promoção do bem de toda a comunidade humana.

Os cristãos e suas organizações tomam parte da história dos povos e da grande família humana. E a Igreja, “povo de Deus”, fiel à missão recebida de Jesus Cristo, quer estar a serviço da comunidade humana, não zelando apenas pelos seus projetos internos e seu próprio bem. O papa Francisco vem recordando isso constantemente nos seus pronunciamentos: que ela precisa ser “uma Igreja em saída”, uma “comunidade samaritana”, ou como “um hospital de campo”, para socorrer e assistir os feridos... Mas também quando diz que a Igreja não pode se omitir, nem abster de dar sua contribuição para a reta ordem ética, social, econômica e política da sociedade.

O pressuposto teológico e antropológico dessa preocupação do Concílio é a convicção de que a humanidade constitui uma única grande família de filhos de Deus e de irmãos entre si. Por isso mesmo, o empenho em favor da dignidade e dos direitos humanos fundamentais de cada ser humano, bem como na edificação da justiça social, da fraternidade entre todos e da assistência a toda pessoa necessitada, é parte integrante da sua missão, bem como da vida cristã coerente de cada membro da Igreja.

A CF vai retomar essas intuições fecundas do Concílio e propô-las novamente à reflexão no contexto brasileiro, durante o ano de 2015, especialmente no período da Quaresma, em que se prepara a celebração da Páscoa cristã. O lema – “eu vim para servir” retoma as palavras de Jesus: “eu não vim para ser servido, mas para servir e para entregar a minha vida pela salvação de todos” (Mc 10,45). A promoção do verdadeiro espírito fraterno no convívio social é, sem dúvida, um importante serviço à sociedade.

Dízimo: Manutenção da fé

Nós buscamos um relacionamento sincero com Deus através da oração, do cuidado com o templo, com o zelo pelos mais pobres, e de muitas outras maneiras. No entanto, por vezes trabalhamos de forma isolada, com doações dominicais e algumas ações esporádicas dentro das comunidades.

Todas as comunidades precisam crescer tanto em espiritualidade como em organização para proporcionar aos seus membros possibilidades de criar um relacionamento fraterno, com locais que facilitem o aprendizado, a oração e também o divertimento.

Os espaços precisam ser mantidos, ampliados e se tornar mais aconchegantes de maneira que todos possam ser bem atendidos na casa de Deus. Assim também nós precisamos crescer na Fé, tornando-nos mais responsáveis com a comunidade em que vivemos e que nos acolhe.

O Dízimo é uma ferramenta importantíssima para o nosso crescimento no exercício da Fé, pois nos permite transformar em ato concreto todo nosso desejo de crescimento espiritual e desapego das coisas materiais. Através do Dízimo nossas comunidades podem se organizar, planejar e desenvolver aquilo que desejam e necessitam, pois todos colaboram de forma organizada e sistemática.

Uma tomada de consciência de que nosso Dízimo trazido na comunidade vai amparar, cuidar e promover a vida levará todos os seus membros a um grande desejo de viver intensamente a partilha.

Enfim, podemos promover a manutenção da nossa Fé também através de atos concretos dentro e fora de nossas comunidades, proporcionando o nosso crescimento e de nossos irmãos.

O que a Igreja diz sobre purgatório?

Se quem já morreu não pode fazer nada por si mesmo, o que os vivos poderão fazer por quem já se foi?

Se temos uma certeza a respeito da vida é que a morte um dia virá, ela é certa; cedo ou tarde nós nos depararemos com ela. O que nos consola como cristãos é a nossa fé na ressurreição. Jesus ressuscitou e com Ele todo aquele que n’Ele crer ressuscitará. Talvez, você já tenha se perguntado: “O que vai ser daquele meu parente ou amigo que faleceu? Ele era gente boa, porém, tinha uns pecados. Ele vai para o céu? E se eu morrer, mas não estiver “tão em Deus”, o que vai ser de mim?”.

O ideal é que morramos em Deus, sem pecados, e que tenhamos vivido a reconciliação com todos com amor e gratidão. Enfim, se morrermos em Jesus Cristo, na pureza e sem pecado, com certeza o céu será o nosso destino final, pois lá é a morada dos santos. Devemos, dia após dia, viver o anúncio de Jesus Salvador para alcançarmos a pátria eterna que, por misericórdia, Ele concede aos Seus filhos.

Parece impossível, não é? Mas muitos santos conseguiram, e eles eram pessoas como nós. De qualquer forma, se morrermos não tão santos ou com alguns pecados, a Igreja nos ensina sobre o Purgatório, o lugar da purificação final dos eleitos, daqueles que morreram em Deus, mas ainda precisam de purificação para chegar à glória dos céus.

Foi no Concílio de Florença e de Trento que se desenvolveu a fé no purgatório. Na Bíblia, há algumas passagens que falam desse fogo que purifica (I Cor 3,15; I Pd 1,7). O segundo livro do Macabeus 12,46 fala de Judas, que ofereceu sacrifícios em expiação dos pecados de falecidos. Quando se menciona Purgatório, não diz respeito aos condenados ao céu ou ao inferno, não se trata ainda de um lugar, mas de um estado onde é possível a purificação. Assim, como em nossas orações, preces, Missas e em nossos jejuns somos purificados, quem já morreu não pode fazer mais nada por si mesmo.

Se quem já morreu não pode fazer nada por si mesmo, o que os vivos poderão fazer por quem já se foi? Cremos na comunhão dos santos e no batismo que nos une a Cristo. Por meio de orações, sacrifícios e, principalmente, pela celebração da Santa Eucaristia pedimos pelos falecidos, por aqueles que partiram.

Por fim, irmãos, essa é a nossa fé católica. Vamos com muita confiança viver nossa vida cristã na busca constante e perseverante pela santidade. Vamos, com muita garra, anunciar Jesus Cristo como Senhor e Salvador, e orar por aqueles que partiram, por parentes e amigos falecidos. Vamos rezar também por aqueles que morreram esquecidos, perdidos ou abandonados, para que também sejam purificados pelo fogo do Senhor e cheguem ao Seu Reino.

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Todas as gerações são necessárias para a Igreja

A edificação da Igreja é obra perene, e o acabamento da imensa obra espiritual só acontecerá na Jerusalém celeste

A Liturgia da Igreja tem um rito altamente significativo, a Dedicação do Templo e do Altar, com o qual os edifícios destinados ao uso do culto são “separados”, “consagrados”. Na ocasião, a celebração se inicia com a entrega do templo ao Bispo, que faz a Dedicação e o devolve ao uso da Comunidade a que se destina. Anualmente celebra-se a festa alusiva a este gesto sagrado, para que cresça a consciência da vocação cristã e o sentido de pertença à Igreja. Dentre todos os templos edificados pelo mundo afora, ganha destaque a Basílica do Santíssimo Salvador em São João de Latrão, também chamada de Catedral de Roma, a Sede que preside à caridade, onde o Papa toma posse de sua missão como “Bispo de Roma”. Porque é Bispo de Roma é que lhe cabe o primado na Igreja. Anualmente, no dia nove de novembro, a Dedicação da Basílica do Latrão é comemorada solenemente e oferece bela oportunidade para um conhecimento maior da própria Igreja.

Nossas grandes cidades assistem ao crescimento urbano desafiador, que exige uma atenção especial de todas as pessoas que se sentem responsáveis pela Igreja. Impressiona fortemente a dedicação de homens e mulheres que se organizam, conduzidos pela liderança de tantos dedicados sacerdotes, para a construção das igrejas e Capelas. Edifica-me ver as muitas ofertas semelhantes às duas moedas da viúva pobre elogiada por Jesus no Evangelho (Cf. Mc 12, 42-43). De vez em quando escuto observações de pessoas sobre as construções de nossos templos: “Obra de Igreja não termina nunca!” E é verdade, pois os muitos mutirões, coletas, campanhas de todo tipo, tudo é feito com boa vontade, especialmente dos mais pobres! Prolongado o tempo para a construção, magnífico aprendizado que se realiza!

E aqui está a primeira das muitas lições: a edificação da Igreja é obra perene, e o acabamento da imensa obra espiritual só acontecerá na Jerusalém celeste. Quem entra na Igreja, chega para participar de uma imensa tarefa, que envolve a todos, pois Igreja é missão! As portas que desejamos abertas, de todas as igrejas e capelas, sejam o sinal daquele que é a porta das ovelhas, o próprio Senhor Jesus Cristo (Cf. Jo 10, 7). Para que todos os homens e mulheres venham a passar por ele, o olhar dos cristãos que já o encontraram deverá ampliar-se para alcançar a todos. Certamente os cristãos leigos e leigas têm à disposição um imenso leque aberto de contatos, oportunidades de diálogo e evangelização direta, muito mais do que os Bispos e Padres. É que seu campo de ação e seu desafio é o imenso mundo das profissões, do relacionamento social de todo tipo, o corpo a corpo do diálogo com as diversas estruturas do mundo. Igreja é convocação, chamado universal à salvação.

O fundamento da missão da Igreja se encontra no Sacramento do Batismo, no qual todos recebemos uma tríplice tarefa: profetas, para anunciar a Palavra da verdade; sacerdotes, com a graça para oferecer tudo a Deus, como sacrifício agradável; reis e pastores do reinado de Cristo, para edificar na caridade o relacionamento fraterno em todo lugar. Daqui nasce a igualdade fundamental na dignidade e na responsabilidade, com a qual todos se sentem membros vivos da Igreja de Cristo. Não dá para imaginar um cristão de verdade que se acomode na passividade diante dos problemas de nosso tempo.

Quem vai à missa aos domingos, ali escuta a Palavra de Deus e se alimenta da Eucaristia, sai da Igreja-templo para construir a Igreja-Corpo de Cristo, vivendo o ensinamento do Apóstolo: “Há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo. Há diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo. Há diferentes atividades, mas é o mesmo Deus que realiza tudo em todos. A cada um é dada a manifestação do Espírito, em vista do bem de todos. A um é dada pelo Espírito uma palavra de sabedoria; a outro, uma palavra de conhecimento segundo o mesmo Espírito. A outro é dada a fé, pelo mesmo Espírito. A outro são dados dons de cura, pelo mesmo Espírito. A outro, o poder de fazer milagres. A outro, a profecia. A outro, o discernimento dos espíritos. A outro, a diversidade de línguas. A outro, o dom de as interpretar. Todas essas coisas as realiza um mesmo Espírito, que distribui a cada um conforme quer” (1 Cor 12, 4-11).

Acolhendo a missão, prontos a edificar a Igreja, os cristãos abrem braços e corações para todos. Como numa família, saberão dar atenção a cada pessoa, levando em conta sua história. Na Igreja encontrem seu lugar os que se aproximam da fé, tocados pela Palavra de Deus e pelo testemunho dos fiéis. Não é discriminação oferecer-lhes o alimento espiritual que são capazes de absorver. Sejam amados e acompanhados os catecúmenos, admitidos ao processo de iniciação cristã. O tempo que lhes é dado para a formação, antes dos Sacramentos da Iniciação cristã, é fecundo da graça de Deus. Não faz bem precipitar os passos a serem dados, inclusive para respeitar seu amadurecimento pessoal. Cabem na Comunidade Eclesial as pessoas que estão num processo de conversão e penitência, quem sabe depois de estradas nem sempre bonitas, percorridas pelo mistério da liberdade humana. Acolhê-los e acompanhá-los com paciência, valorizando as descobertas da graça do Senhor, da prática dos mandamentos e os frutos de uma escuta amorosa da Palavra de Deus, é o caminho pedagógico suscitado pelo amor de Cristo por eles. Trabalhe-se fervorosamente para que encontrem decididamente a estada da vida nova!

Que dizer das famílias, Igreja Doméstica, na graça de ser esposo e esposa, pai, mãe, filhos e filhas, irmãos e irmãs? Deus seja louvado por estas porções preciosas do Corpo de Cristo, presentes no recesso do lar, estrelas que brilham e apontam a todos o caminho do amor. É olhando para elas que os cristãos se animam a acompanhar com caridade ao mesmo tempo forte e cheia de ternura misericordiosa, as famílias em situação particular, tantas delas sem a graça do Sacramento do Matrimônio, mas lares a serem amados e valorizados, a fim de encontrarem o espaço de carinho e dedicação da Igreja. A verdade sobre o ideal da família santificada pela graça sacramental não as desanime, mas as conduza aos caminhos possíveis a cada situação.

E a Igreja se edifica com a contribuição das várias gerações. Igreja e sociedade sem crianças são privadas de vitalidade. Os casais que se abrem ao dom do filho, e filho é bênção (Cf. Sl 127, 1-5) constroem a Igreja do futuro! E mais dois polos da vida social e da Igreja encontrem seu lugar. Com a palavra o Papa Francisco: “Olhem! Eu penso que, neste momento, a civilização mundial ultrapassou os limites, ultrapassou os limites porque criou um tal culto do ‘deus’ dinheiro, que estamos na presença de uma filosofia e uma prática de exclusão dos dois polos da vida que constituem as promessas dos povos. A exclusão dos idosos, obviamente: alguém poderia ser levado a pensar que nisso exista, oculta, uma espécie de eutanásia, isto é, não se cuida dos idosos; mas há também uma eutanásia cultural, porque não se lhes deixa falar, não se lhes deixa agir. E a exclusão dos jovens: a percentagem que temos de jovens sem trabalho, sem emprego, é muito alta e temos uma geração que não tem experiência da dignidade ganha com o trabalho. Assim, esta civilização nos levou a excluir os dois vértices que são o nosso futuro. Por isso os jovens devem irromper, devem fazer-se valer; os jovens devem sair para lutar pelos valores, lutar por estes valores; e os idosos devem tomar a palavra, tomar a palavra e ensinar-nos! Que eles nos transmitam a sabedoria dos povos!” (Cf. Encontro com os jovens argentinos, na Jornada Mundial da Juventude).

Igreja, Povo de Deus! Venham todos a ajudarem na edificação da Igreja, Corpo de Cristo. Há lugar para todos no regaço amoroso do amor do Pai, na força do Espírito Santo que conduz a Igreja pelos caminhos do mundo, rumo à eternidade.

É preciso mais entrega, esperteza e paixão na prática do bem

Falta habilidade, entrega e paixão, falta imersão na sagacidade para o bem. Nós, chamados a fazer parte desta Luz maravilhosa que é Jesus, somos passivos demais, somos sem vibração, sem sabor e sem gosto.

“Com efeito, os filhos deste mundo são mais espertos em seus negócios do que os filhos da luz” (Lucas 16,8).
Num primeiro momento, pode parecer meio contraditório e até difícil entender essa Palavra, porque o senhor, responsável pelo negócio, elogiou seu administrador desonesto, porque este agiu com esperteza quando sabia que seria demitido. Então, antes de prestar contas daquilo que fez em sua administração, combinou com cada um daqueles que deviam para o seu patrão e negociou a dívida para menos, para aliviar a barra de quem devia, pois sabia que mais tarde poderia precisar deles.

Deixe-me explicar a você: não é que a Palavra de Deus seja usada para exaltar, enaltecer ou valorizar a desonestidade; muito pelo contrário, ela está mostrando a esperteza, a sagacidade que aqueles que vivem neste mundo sabem usar para as coisas e os negócios do mundo. Sim, eles são espertos, são vivos!

É como se Jesus dissesse: “Os filhos deste mundo são muito mais espertos, sagazes, inteligentes, têm muito mais paixão, muito mais garra para fazer os seus negócios do que os filhos da luz”. Porque, muitas vezes, nós, que fomos chamados a fazer parte desta luz maravilhosa, que é Jesus, somos passivos demais, somos sem vibração, sem sabor, sem gosto. É assim que nos comportamos para fazer e cuidar das coisas do Senhor.

Quando cantores famosos vêm ao Brasil, muitas pessoas ficam cinco, seis dias numa fila para conseguir um ingresso. Há torcedores fanáticos que fazem loucuras pelo seu time de futebol, pessoas que para defender o seu negócio dão tudo de si. Mas, para as coisas de Deus, são moles, são devagar e, muitas vezes, chegam a dizer: “Quando der”, “Vou ver se posso”.

Falta habilidade, entrega e paixão, falta imersão na sagacidade para o bem, porque os que fazem o mal sabem ser aplicados para fazê-lo, mas os que querem viver o bem não têm a mesma aplicação, a mesma entrega, o mesmo dinamismo que o outro tem. Por isso, o mal se difunde com mais facilidade, ele se propaga com maior êxito, porque quem sabe fazer o bem, muitas vezes, não o faz com inteligência e aplicação necessária. Agora, aqueles que fazem o mal sabem ser muito mais espertos do que nós! Por isso as coisas do mundo crescem com mais facilidade; e nós, em nossa timidez, deixamos de expandir o Reino, a Boa Nova, a bondade, a generosidade, porque não nos aplicamos para valer para fazer às coisas do Senhor.

Deus abençoe você!