quarta-feira, 23 de março de 2016

Catequese: O significado da Procissão do Encontro

Dentro da Semana Maior, a Procissão do Encontro tem um sentido particular

Uma celebração litúrgica de muita piedade, que o povo católico muito aprecia durante a Semana Santa, é a Procissão do Encontro, um momento que marca o encontro da Virgem Maria com Seu Filho Divino, carregando a cruz no caminho do Calvário, pelas ruas de Jerusalém, depois de ser flagelado, coroado de espinhos e condenado à morte por Pilatos. É um momento em que meditamos o doloroso encontro da Virgem Maria com Jesus; é um momento de profunda reflexão sobre as dores da Mãe de Jesus, desde o Seu nascimento até a Sua morte na cruz. Jesus sofreu a Paixão; a Virgem sofreu a compaixão por nós.

A “espada de Simeão”, que não saíra da mente de Jesus durante 30 anos de Sua vida, apresentava-se cada vez mais ameaçadora diante de Maria. Não é difícil imaginar o quanto Nossa Senhora sofreu ao ver seu Filho ser perseguido, odiado, jurado de morte pelos anciãos e doutores da Lei que o invejavam. Quantas ciladas Lhe armavam! Quantas disputas Ele teve de travar com os mestres da Lei.

E eis que a Paixão do Senhor se torna presente. Todo ano, ela ia a Jerusalém para a festa da Páscoa judaica, e também naquele ano da morte do seu Amado, ela ali estava.

Podemos imaginar a dor do coração de Maria ao saber da traição de Judas, do abandono dos discípulos no Horto das Oliveiras, a negação de Pedro e, depois, Sua prisão e maus tratos nas mãos dos soldados do sumo sacerdote. Certamente, naquela noite santa e terrível, em que Ele, “tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim” (Jo 13,1), Maria foi informada pelos discípulos que abandonaram o Mestre e fugiram na noite.

Fico pensando na dor de Maria ao saber da tríplice negação de Pedro, o escolhido do Senhor, e de tudo o mais que Seu Filho divino estaria passando nas mãos dos soldados naquela noite. Ela sabia que o Sumo Sacerdote e os doutores da lei estavam ansiosos para pôr as mãos n’Ele. São Lucas narra com riqueza de detalhes os fatos:

“Entretanto, os homens que guardavam Jesus escarneciam dele e davam-lhe bofetadas. Cobriam-lhe o rosto e diziam: Adivinha quem te bateu!” (Lc 22,63-64).

Que Mãe suportaria ver seu Filho sofrer tanto assim?
Na manhã do dia seguinte, sabia que seu Filho era colocado diante de Pilatos, que o mandou flagelar até o sangue escorrer de Suas chagas, e ainda coroado com uma coroa de espinho, dolorosa e humilhante. Que Mãe suportaria ver seu Filho sofrer tanto assim? Que dor Maria não sentiu ao saber, ou quem sabe até ao ouvir, o povo insuflado pelos doutores da Lei gritando a Pilatos: “Crucifica-o! crucifica-o!”? Como deve ter sofrido ao ouvir o povo gritar!

“Todo o povo gritou a uma voz: ‘À morte com este, e solta-nos Barrabás’. Pilatos, porém, querendo soltar Jesus, falou-lhes de novo, mas eles vociferavam: ‘Crucifica-o! Crucifica-o!’. Pilatos pronunciou então a sentença que lhes satisfazia o desejo” (Lc 23,18-24).

Pilatos tinha sentimento humano para com Jesus; tivesse ele vencido sua covardia, talvez o teria salvo do furor da multidão. Maria aceitou tudo aquilo, não se revoltou naquela hora tremenda, que decide a vida ou a morte de seu Filho. Ela sabe que o Filho podia por si, sem auxílio alheio, livrar-se de Seus inimigos, mas se se deixou como um cordeiro levar ao suplício, é porque o fez espontaneamente, cumprindo a vontade de Deus.

Maria foi ao encontro de Jesus que, carregado do peso da cruz, encaminha-se para o Calvário. Ela o vê todo desfigurado e entregue, coberto de mil feridas e horrivelmente ensanguentado. Seus olhares se cruzam. Nenhuma queixa sai de sua boca, porque as maiores dores Deus lhe reservou para a salvação do mundo. Aquelas duas almas, heroicamente generosas, continuam juntas no seu caminho do sofrimento, até o lugar do suplício.

Certamente, Maria O acompanhou no caminho do Calvário, onde ela viu seu Amado carregar a cruz de nossos pecados, todo chagado, ferido, coroado de espinhos, destruído. Certamente, ela se lembrou da espada de Simeão e das palavras de Isaías que conhecia tão bem, tendo-a ouvido na sinagoga de Nazaré.

Não há dor semelhante a de Nossa Senhora, desde quando se encontrou com seu divino Filho no caminho do Calvário, carregando a pesada cruz e insultado como se fosse um criminoso. A aceitação da vontade do Altíssimo sempre foi a sua força em horas tão cruéis como essa.

Maria compreende a dor da alma
Ao encontrar Sua Mãe, os olhos de Jesus a fitaram, e ela certamente compreendeu a dor de Sua alma. Não pôde lhe dizer palavra nenhuma, mas a fez compreender que era necessário que unisse a sua dor à d’Ele. A união da grande dor de Jesus e de Maria, nesse encontro, tem sido a força de tantos mártires e de tantas mães aflitas.

Esse fato ficou tão marcado na vida do povo católico, que tanto ama sua Mãe e seu Filho, que não deixa de celebrar esse encontro com uma procissão na Semana Santa. Mãe e Filho se encontram nas ruas das cidades ou em alguma praça onde o povo pode reviver esse santo encontro.

Nós, que temos medo do sacrifício, devemos aprender, nesse encontro, a submeter-nos à vontade de Deus, como Jesus e Maria se submeteram. Aprendamos a calar nos nossos sofrimentos, e os olhares de Jesus e de Maria consolarão a nossa pobre alma sofredora.
Maria viveu os tormentos da Paixão de seu armadíssimo Filho. Encontra-O no caminho do Calvário, flagelado, coroado de espinhos, esbofeteado, destruído… Que mãe poderia aguentar tamanha dor? Seu Filho Santo, Deus, carregando nas costas a cruz de Seu suplício!

As nossas almas vão sentir a eficácia dessa riqueza na hora em que, abatidos pela dor, formos até nossa Mãe, fazendo a meditação desse encontro dolorosíssimo. Esse silêncio se converterá em força para as almas aflitas, quando, nas horas difíceis, souberem recorrer à meditação desta Mãe que sofre.

É precioso o silêncio nas horas de sofrimentos; muitos não sabem sofrer uma dor física, uma tortura da alma, em silêncio; desejam logo contá-la para que todos o lastimem! Nossa Senhora e Jesus nos ensinam a vencer a aflição suportando tudo, em silêncio, por amor a Deus.

Certamente a dor nos humilha, mas é nessa santa humilhação que Deus nos edifica, corrige, cura e santifica. São Francisco de Sales dizia que ninguém se torna humilde e santo se não passar pela cadinho da humilhação. Jesus e Maria nos ensinam a aprender a sofrer em silêncio, como eles sofreram no doloroso encontro no caminho do Calvário.


Felipe Aquino
Canção Nova

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