sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Catequese: A Igreja e a sociedade

O tema da Campanha da Fraternidade desse ano “Fraternidade: Igreja e Sociedade”, com o lema “Eu vim para servir” (cf. Mc 10, 45), escolhido para recordar a vocação e missão de todo o cristão e das comunidades de fé na sociedade, como sal da terra e luz do mundo, é propício para excelentes reflexões. Mas, infelizmente, pode também ser usado para favorecer a ideologias heterodoxas. A Igreja não é uma entidade apenas ou simplesmente filantrópica ou política. Ela vai muito além do corpo e da visão terrestre.

Em sua mensagem, o Papa Francisco recorda o principal da Quaresma, nossa união e identificação com Cristo, e a sua consequência, identificarmo-nos com os irmãos: “Um tempo propício para nos deixarmos servir por Cristo e, deste modo, tornarmo-nos como Ele. Verifica-se isto quando ouvimos a Palavra de Deus e recebemos os sacramentos, nomeadamente a Eucaristia. Nesta, tornamo-nos naquilo que recebemos: o corpo de Cristo”. Como consequência, aprendemos que “neste corpo, não encontra lugar a tal indiferença que, com tanta frequência, parece apoderar-se dos nossos corações, porque, quem é de Cristo, pertence a um único corpo e, n'Ele, um não olha com indiferença o outro. ‘Assim, se um membro sofre, com ele sofrem todos os membros; se um membro é honrado, todos os membros participam da sua alegria’ (1 Cor 12, 26)”.

Entre as manipulações possíveis do tema, está a de querer ressuscitar o viés marxista da Teologia da Libertação. Essa ideologia teológica surgiu como reação às escravidões sociais e econômicas, que todos lamentamos, mas muitas vezes enfatizou demasiadamente a linha social em detrimento da espiritual, tentando reduzir o Evangelho da salvação a um evangelho terrestre e, pior, dentro de uma análise marxista, com rejeição da doutrina social da Igreja.

Ao receber Bispos do Brasil em visita ad limina, em dezembro de 2009, o Papa Bento XVI recordou a “Instrução Libertatis nuntius da Congregação para a Doutrina da Fé, sobre alguns aspectos da teologia da libertação, que sublinha o perigo que comportava a aceitação acrítica, realizada por alguns teólogos, de tese e metodologias provenientes do marxismo”. Bento XVI advertiu que as sequelas da teologia marxista da libertação “mais ou menos visíveis de rebelião, divisão, desacordo, ofensa, anarquia, ainda se fazem sentir, criando em suas comunidades diocesanas um grande sofrimento e grave perda de forças vivas”. Por essa razão, o Santo Padre exortou “aos que de algum modo se sintam atraídos, envolvidos e afetados no íntimo por certos princípios enganosos da teologia da libertação, que se confrontem novamente com a referida Instrução, acolhendo a luz benigna que a mesma oferece com mão estendida”.

No Credo do Povo de Deus, Paulo VI exprimiu bem o pensamento equilibrado da Igreja: “Nós professamos que o Reino de Deus iniciado aqui na Terra, na Igreja de Cristo, não é deste mundo, cuja figura passa, e que seu crescimento próprio não se pode confundir com o progresso da civilização..., mas consiste em conhecer cada vez mais profundamente as insondáveis riquezas de Cristo, em esperar cada vez mais corajosamente os bens eternos, em responder cada vez mais ardentemente ao amor de Deus e em difundir cada vez mais amplamente a graça e a santidade entre os homens. Mas é este mesmo amor que leva a Igreja a preocupar-se constantemente com o bem temporal dos homens,... suas necessidades, alegrias e esperanças, seus sofrimentos e seus esforços...”.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Catequese: Por que me confessar?

A confissão oferece uma nova possibilidade de se converter e recobrar a graça da justificação



O coração do homem apresenta-se pesado e endurecido; é preciso que Deus lhe dê um coração novo. A conversão é, antes de tudo, uma obra divina que reconduz nosso coração ao Senhor: “Converte-nos a ti, Senhor, e nos converteremos” (Lm 5,21). Deus nos dá a força de começar de novo.

É descobrindo a grandeza do amor de Deus que nosso coração experimenta o horror e o peso do pecado, e começa a ter medo de ofender o Senhor pelo mesmo pecado e de ser separado d’Ele. O coração humano converte-se olhando para aquele que foi transpassado por nossos erros (CIC 1432). O pecado é uma palavra, um ato ou um desejo contrário à lei eterna. “É uma falta contra a razão, a verdade, a consciência reta; é uma falta ao amor verdadeiro para com Deus e para com o próximo, por causa de um apego perverso a certos bens. Fere a natureza do homem e ofende a solidariedade humana.” (cf. CIC 1849). Por este motivo, a conversão traz, ao mesmo tempo, o perdão de Deus e a reconciliação com a Igreja, e é isso que o Sacramento da Penitência e da Reconciliação exprime e realiza liturgicamente.

A confissão dos pecados graves e veniais
Cristo instituiu o sacramento da Penitência para todos os membros pecadores de sua Igreja; antes de tudo, para aqueles que, depois do batismo, cometeram pecado grave e, com isso, perderam a graça batismal e feriram a comunhão eclesial. É a eles que o sacramento da penitência oferece uma nova possibilidade de se converter e de recobrar a graça da justificação (CIC, 1446).

Comete-se um pecado grave quando, mesmo conhecendo a lei de Deus, se pratica uma ação voluntariamente contra as normas prescritas nos dez mandamentos (cf. CIC 1857-1861). O pecado mortal destrói a caridade no coração do homem por uma infração grave da lei de Deus; desvia o homem d’Ele, que é seu fim último e sua bem-aventurança, preferindo um bem inferior. […]

O pecado mortal, atacando em nós o princípio vital que é a caridade, exige uma nova iniciativa da misericórdia de Deus e uma conversão do coração, que se realiza normalmente no sacramento da reconciliação (CIC 1855, 1856).

A declaração dos pecados ao sacerdote constitui uma parte essencial do sacramento da penitência: “Os penitentes devem, na confissão, enumerar todos os pecados mortais de que têm consciência depois de examinar-se seriamente, mesmo que esses pecados sejam muito secretos e tenham sido cometidos somente contra os dois últimos preceitos do decálogo, pois, às vezes, esses pecados ferem gravemente a alma e são mais prejudiciais do que os outros que foram cometidos à vista e conhecimento de todos” (CIC, 1456).

Todo fiel, depois de ter chegado à idade da discrição, é obrigado a confessar fielmente seus pecados graves. Aquele que tem consciência de ter cometido um pecado mortal não deve receber a Sagrada Comunhão, mesmo que esteja profundamente contrito, sem receber previamente a absolvição sacramental, a menos que tenha um motivo grave para comungar e lhe seja impossível chegar a um confessor (cf. CDC, 916; cf. CIC, 1457).

“Procurai o Senhor enquanto é possível encontrá-lo, chamai por Ele, agora que está perto. Que o malvado abandone o mau caminho, que o perverso mude seus planos, cada um se volte para o Senhor, que vai ter compaixão, retorne para o nosso Deus, imenso no perdoar. Pois os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, e vossos caminhos não são os meus – oráculo do Senhor” (Is 55,6-8).

“Lâmpada para meus passos é tua palavra e luz no meu caminho” (Sl 118,105).

O pecado venial (pecado ou falta leve), mesmo não rompendo a comunhão com Deus, “enfraquece a caridade, traduz uma afeição desordenada pelos bens criados, impede o progresso da alma no exercício das virtudes e a prática do bem moral e merece penas temporais. O pecado venial deliberado e que fica sem arrependimento dispõe-nos pouco a pouco a cometer o pecado mortal” ( CIC, 1863).

Por isso, a Igreja vivamente recomenda a confissão frequente destes pecados cotidianos (CDC 988). A confissão regular dos pecados veniais ajuda-nos a formar nossa consciência, a lutar contra nossas más inclinações, a deixar-nos curar por Cristo, a progredir na vida do Espírito. Recebendo mais frequentemente, por meio deste sacramento, o dom da misericórdia do Pai, somos levados a ser misericordiosos como Ele (cf. LG 40,42; CIC, 1458).

“Mesmo se a Igreja não nos obriga à confissão frequente, a negligência em recorrer a ela é pelo menos uma imperfeição e pode tornar-se até um pecado, pois a confissão frequente é o único meio para o cristão evitar o pecado grave” (Sto. Afonso de Liguori, Teol. Mor., VI, 437).

A recusa de confessar-se frequentemente é considerada uma culpa grave. Permanecer nesta condição voluntariamente é uma culpa grave contra a prudência e contra a caridade devida a Deus e a si mesmo.

sábado, 21 de fevereiro de 2015

O verdadeiro jejum vem do coração, diz Papa na Quaresma


 Santo Padre abordou a prática da penitência, comum no tempo quaresmal; ele também advertiu sobre usar Deus para cobrir injustiças

Os cristãos, especialmente na Quaresma, são chamados a viver coerentemente o amor a Deus e ao próximo. Essa foi uma das passagens-chave da homilia do Papa Francisco nesta sexta-feira, 20, na Casa Santa Marta. O Santo Padre destacou que o verdadeiro jejum vem do coração, além de alertar sobre a atitude de ajudar a Igreja e, pelas costas, ser injusto com o próximo.

O Papa se inspirou na Primeira Leitura extraída do Livro de Isaías, em que o povo se lamenta a Deus por não ouvir seus jejuns. Francisco destacou que é preciso distinguir entre o “formal” e o “real”, pois, para Deus, não é jejum deixar de comer carne e depois brigar e explorar os trabalhadores. Jesus condenou os fariseus, porque faziam tantas observações exteriores, mas sem a verdade do coração.

O jejum que Jesus quer, segundo o Papa, é aquele que dissolve as cadeias injustas, liberta os oprimidos, veste os nus e faz justiça. Isso porque o verdadeiro jejum vem do coração, não é somente externo. “O amor a Deus e o amor ao próximo são uma unidade, e se você quer fazer penitência, real e não formal, deves fazê-la diante de Deus e também com o seu irmão, com o próximo”.

Fé sem obras é fé morta
O Santo Padre também recordou que a pessoa pode até ter fé, mas, como diz o apóstolo Tiago, se não faz obras é uma fé morta. Assim, se alguém vai à Missa todos os domingos e comunga, pode-se perguntar como é sua relação, por exemplo, com os funcionários: se os paga de maneira irregular, com um salário justo e assistência de saúde.

“Quantos homens e mulheres têm fé, mas dividem as tábuas da lei: ‘Sim, eu faço isso’. ‘Mas você dá esmolas?’. ‘Sim, sim, sempre mando um cheque para a Igreja’. ‘Ah, então tá. Mas, na sua Igreja, na sua casa, com quem depende de você (filhos, avós, funcionários), você é generoso, é justo?’. Não se pode fazer ofertas à Igreja e pelas costas ser injusto com seus funcionários. Este é um pecado gravíssimo: usar Deus para cobrir a injustiça”.

Francisco citou ainda o que diz o profeta Isaías: “Não é um bom cristão quem não faz justiça com as pessoas que dependem dele”. E não é um bom cristão aquele que não se despoja de algo necessário para dar ao próximo, que precisa.

O caminho da Quaresma é duplo: a Deus e ao próximo, lembrou o Papa; é um caminho real, não simplesmente formal. “Não é somente deixar de comer carne sexta-feira, fazer alguma coisinha e, depois, deixar aumentar o egoísmo, a exploração do próximo, a ignorância dos pobres”.

Alguns – contou o Papa –, quando precisam se curar, vão ao hospital, e por ter um plano de saúde, obtém a consulta rápido. “É uma coisa boa – comentou Francisco – agradeça ao Senhor. Mas, diga-me, você pensou naqueles que não têm esta facilidade e quando vão ao hospital devem esperar 6, 7, 8 horas para uma coisa urgente?”.

Abraçar quem errou
O Santo Padre mencionou, por fim, a necessidade de aproveitar o tempo quaresmal para se aproximar daqueles que ainda não seguem os mandamentos, que erraram e até mesmo dos que estão presos.

“’Como será a sua Quaresma?’, pergunta Francisco. ‘Graças a Deus tenho uma família que cumpre os mandamentos, não temos problemas’. Mas, nesta Quaresma – pergunta o Papa –, em seu coração existe ainda lugar para quem não cumpriu os mandamentos? Que cometeram erros e estão encarcerados?”.

Se uma pessoa não está encarcerada, é porque Deus a ajudou a não cair, disse o Papa, por isso ela precisa dar lugar no seu coração aos presos, rezar por eles.

“Em seu coração, os presos têm um lugar? Você reza por eles, para que o Senhor lhes ajude a mudar de vida? Acompanha, Senhor, o nosso caminho quaresmal, para que a observância exterior corresponda a uma profunda renovação espiritual. Assim rezamos. Que o Senhor nos dê essa graça”.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Dicas para viver bem a Quaresma

O centro de nossa fé cristã está no mistério pascal: a Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus Cristo.

Para vivenciarmos, de forma mais concreta e plena essa realidade, nossa mãe Igreja nos oferece um tempo privilegiado de preparação: a Quaresma.

A partir da Quarta­-feira de Cinzas, somos convocados pela Igreja a percorrer um caminho em direção ao conhecimento mais profundo da Pessoa de Jesus.

Neste tempo quaresmal, temos a oportunidade de avançar em uma intimidade maior com o Senhor. Digo avançarmos, porque, a cada ano, a Igreja não nos propõe um repetitivo exercício espiritual que nos permita dizer: “De novo estamos na Quaresma”, como, se neste ano, nós fôssemos vivê-la da mesma forma que a vivemos nos outros anos. Não! Definitivamente estamos diante de uma nova oportunidade de, conhecendo mais a Pessoa de Cristo, nos esforçarmos de maneira decidida para correspondermos a Seu infinito amor por nós, que chegou a ponto de se entregar por nós em uma cruz.

A Igreja nos propõe o jejum como uma das inúmeras formas de vivenciarmos bem este tempo de crescimento e conversão. Contudo, essa prática espiritual em nada pode ser comparado ao regime alimentar ou a um tempo em que passamos fome. Explico, de forma bem simples, o que é o jejum e as várias maneiras possíveis de fazê-­lo em um pequeno livrinho de minha autoria: “Práticas de Jejum”, da Editora Canção Nova. Essa prática nos ajuda a crescer em disciplina e nos dispõe à vivência da oração.

A correspondência ao amor de Jesus Cristo nos compromete com Ele e também com os irmãos. Dessa forma, este tempo de conversão nos convida a percorrer um caminho de crescimento individual e espiritual, lado a lado com um caminho de crescimento fraterno e social. Uma Quaresma bem vivida toca nessas duas realidades e as transforma e sempre nos conduz à conformação com a vida de Jesus Cristo.

Por fim, o objetivo maior que almejamos alcançar neste período quaresmal não é outro senão uma vida mais santa. Convido vocês, meus irmãos e minhas irmãs e companheiros de missão, a se esforçarem para não ser desclassificados nessa caminhada rumo à santidade. Nossa caminhada se inicia com a Quaresma, nosso percurso é a própria vida de Jesus Cristo e nossa meta final é o céu.

Queremos, neste mês, com nossa evangelização, alcançar o máximo número de pessoas para que ninguém fique desclassificado no meio do caminho. Conto com sua ajuda, orações e esforço pessoal. Juntos vamos nos preparar para celebrar bem o mistério da Ressurreição do Senhor, que coroa este tempo forte de oração.

“Concedei­-nos, ó Deus onipotente, que, ao longo desta Quaresma, possamos progredir no conhecimento de Jesus Cristo e corresponder a seu amor por uma vida santa” 
(Oração do dia do primeiro domingo da Quaresma).

Monsenhor Jonas Abib
Fundador da Comunidade Canção Nova

Papa Francisco envia mensagem para Campanha da Fraternidade 2015

Por ocasião da abertura da Campanha da Fraternidade 2015, promovida pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), nesta Quarta-feira de Cinzas, 18, o papa Francisco enviou mensagem, na qual destaca que o tempo quaresmal é propício para a vivência dos sentimentos de fraternidade e cooperação.

No texto, o papa Francisco fala da importância da contribuição da Igreja no respeito à laicidade do Estado, sem esquecer a autonomia das realidades terrenas, conforme motiva a Doutrina Social, em vista do bem do ser humano. "Cada um deve fazer a sua parte, começando pela minha casa, no meu trabalho, junto das pessoas com que me relaciono. E de modo concreto, é preciso ajudar aqueles que são mais pobres e necessitados", disse Francisco.

Ao final da mensagem, o papa cita, ainda, o lema da CF 2015, "Eu vim para servir", recordando as palavras de Jesus. "Queridos irmãos e irmãs, quando Jesus nos diz 'Eu vim para servir', no ensina aquilo que resume a identidade do cristão: amar servindo. Por isso, faço votos que o caminho quaresmal deste ano, à luz das propostas da Campanha da Fraternidade, predisponha os corações para a vida nova que Cristo nos oferece, e que a força transformadora que brota da sua Ressurreição alcance a todos em sua dimensão pessoal, familiar, social e cultural e fortaleça em cada coração sentimentos de fraternidade e de viva cooperação. A todos e a cada um, pela intercessão de Nossa Senhora Aparecida, envio de todo coração a Bênção Apostólica, pedindo que nunca deixem de rezar por mim", disse.

Papa pede que fiéis escolham Deus em todas as circunstâncias

Segundo Francisco, o cristão deve servir a Deus sempre, sem se deixar levar por deuses que não têm o poder de oferecer nada


Um convite para servir a Deus sempre. Esse foi o foco da homilia do Papa Francisco, nesta quinta-feira, 19, na Casa Santa Marta. Nessa primeira homilia da Quaresma, após a celebração de ontem (Quarta-Feira de Cinzas), o Santo Padre frisou que o cristão deve escolher Deus em toda circunstância da vida, e não se deixar enganar por hábitos e situações que afastam d’Ele.

Essa escolha é difícil, disse o Papa, tendo em vista que é mais fácil viver se deixando levar pela inércia dos hábitos e situações da vida. No fundo, é mais fácil tornar-se servo de outros deuses.
“Escolher entre Deus e os outros deuses, aqueles que não têm o poder de nos dar nada, somente pequenas coisinhas que passam. (…) E hoje a Igreja nos diz: ‘Parem! Parem e escolham! É um bom conselho. E hoje nos fará bem parar e, durante o dia, pensar um pouco: como é o meu estilo de vida? Por qual estrada caminho?”.

Relação com Deus e os irmãos
Junto a essa pergunta, lembrou o Papa, é preciso refletir sobre o relacionamento com Deus, com os pais, os irmãos, a esposa ou o marido, os filhos. Nesse ponto, Francisco mencionou o Evangelho do dia, quando Jesus explica aos discípulos que um homem que ganha o mundo todo, mas perde ou arruína a si mesmo não tem vantagem alguma.

“Um caminho errado é aquele de procurar sempre o próprio sucesso, os próprios bens, sem pensar no Senhor, na família. E alguém pode ganhar tudo, mas no fim se tornar um fracasso. Aquela vida é um fracasso. ‘Não, fizeram um monumento para ele, pintaram um quadro para ele…’ Mas fracassou, não soube escolher bem entre a vida e a morte”.

Francisco convidou os fiéis a pedirem a Deus a coragem necessária para escolhê-Lo todas as vezes. Um auxílio pode ser a mensagem do Salmo 1: “Feliz é o homem que confia no Senhor”.

“Hoje, no momento em que pararmos para pensar nestas coisas e tomar decisões, escolher algo, saibamos que o Senhor está conosco, está próximo a nós para nos ajudar. Nunca nos deixa andar sozinhos, nunca. Está sempre conosco, mesmo no momento da escolha”.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Quarta-Feira de Cinzas: As cinzas do carnaval e as cinzas da Igreja?


Receber as Cinzas no início da Quaresma não é apagar os pecados e abusos cometidos na festa do Carnaval. Antes, deve ser um compromisso de vivência cristã todos os dias de nossa vida.

A quarta-feira de cinzas é o fim do carnaval e o começo da Quaresma. Uns rasgam as fantasias. Outros “rasgam o coração”. Se acaso havia relação entre carnaval e cinzas, (pecado e arrependimento), hoje não mais. Uma coisa sucede à outra no calendário por razões históricas. Não há interdependência espiritual. Sempre foi errado pensar que receber cinzas apagaria os pecados e abusos carnais da folia. A religião não é “conta bancária”: créditos e débitos. Findo o carnaval o débito seria bem alto e o rito das cinzas uma espécie de “acerto de contas” com Deus. Talvez haja sim quem aproveite os estertores do carnaval se esbaldando até a quarta-feira e misture as cinzas dos bailes e desfiles com as da Igreja. Seria esse um gesto de sincera conversão ou apenas crendice inútil? Nossa maior desgraça é uma só: afastar-se de Deus e viver de modo incoerente o seu amor. Portanto, nenhum ritual exterior purificará alguém dos gozos e excessos dos dias em que “tudo parecia permitido”.

A imposição das cinzas propõe ao fiel um caminho de conversão interior: o desejo de seguir o Cristo padecente, crucificado e ressuscitado, praticando as virtudes da Quaresma. Tempo que intensifica o empenho constante da conversão cristã. É útil lembrar: na Bíblia converter-se é fazer uma reviravolta completa nas idéias, atitudes, costumes e convivência social. Abandonando interesses egoístas e materiais como critérios de relacionamento com Deus e os outros. A fé cristã – no particular e no social – é busca contínua da verdade, justiça, fraternidade e não um tipo de “quebra-galho” dos problemas, doenças, negócios e angústias. Daí a coerência entre fé e vida. Oração e conduta não podem se contradizer. Pedidos, desejos e propósitos proferidos nos ritos religiosos e em devoções pessoais ligam a doutrina, as convicções da fé e a ética a todas as áreas das relações humanas. Se não houver sintonia entre o que se reza e o que se vive, não haverá conversão nenhuma. Seja lá o rito que se fizer!

As cinzas simbolizam a fragilidade humana e a desgraça que o pecado nos traz com o egoísmo, a ambição, a insensibilidade. Ao recebê-las reconhecemos o que somos. Dependentes do Senhor da vida até para nos amarmos uns aos outros. O homem não tem a explicação de si mesmo e do universo. Em seu anseio mais profundo precisa da fé em Deus. Por isso os profetas atribuíam os males do povo à sua infidelidade com Deus. Diziam que era preciso “rasgar o coração e não as vestes”. O costume de rasgar em público uma parte da roupa era um sinal de penitência, arrependimento e dor. Ao lado desse havia outros ritos exteriores: o jejum, a cinza, a esmola. A Bíblia ensina: não bastam os ritos! É imperioso criar novas relações sociais de justiça, direitos, conduta moral e dignidade coerentes com a santidade de Deus. Rasgar o coração significava então abraçar no íntimo e no social a aliança com Deus e o amor aos irmãos em todas as situações.

Os 40 dias do itinerário quaresmal nos associam mais de perto à Páscoa de Jesus. Passamos por um treinamento espiritual: maior atenção à Palavra de Deus, mais tempo de oração, renúncias pessoais livres para ter o autodomínio sobre as más inclinações e intensificar a prática da caridade (Campanha da Fraternidade).


O carnaval é cinza sem vida. A Quaresma é cinza que produz vida, purificando-nos!

Um convite na Quarta-feira de Cinzas

Entramos no tempo da Quaresma, período que antecede a Semana Santa

Ocasião de nos preparemos para a maior de todas as celebrações da Igreja: a Ressurreição de Cristo, nossa Páscoa. E este tempo de preparação se inicia hoje, na Quarta-feira de Cinzas. Na celebração deste dia, cinzas são colocadas na nossa cabeça ou na testa para que nos lembremos de onde viemos e para onde vamos: “Como um pai tem piedade de seus filhos, assim o Senhor tem compaixão dos que o temem, porque ele sabe de que é que somos feitos, e não se esquece de que somos pó” (Sl 102,14).

Este é um tempo favorável a nós. Mas para que possamos ressuscitar com Cristo, talvez seja necessário mudarmos a direção da nossa vida. Por isso, no momento em que recebemos as cinzas, ouvimos o seguinte versículo bíblico: “Convertei-vos e crede no Evangelho” (cf. Mc 1,15). Mas vamos antes entender onde está situado este importante alerta de conversão.

No Evangelho de São Marcos, esse trecho está no capítulo 1 (um). O livro tem uma abertura, na qual apresenta o objetivo principal do Evangelho: a afirmação de que Jesus é o Filho de Deus (1,1). Segue com a apresentação de João Batista (1,2-8). No versículo 9, Cristo aparece pela primeira vez no Evangelho para ser batizado por João (1,9-11). Por fim, Ele passa 40 dias no deserto onde é tentando pelo demônio (1,12-13).

No Evangelho de São Marcos, todas estas passagens são apresentadas sem que se ouça a voz de Jesus. Todos os diálogos d’Ele, nestas cenas que conhecemos de outros Evangelhos, São Marcos suprime. A primeira fala de Jesus colocada por esse evangelista é a primeira pregação feita pelo Mestre, e é sobre conversão: Depois que João foi preso, Jesus dirigiu-se para a Galileia. Pregava o Evangelho de Deus e dizia: “Completou-se o tempo e o Reino de Deus está próximo; convertei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1,15).

Essa primeira fala de Jesus, no Evangelho de São Marcos, pode ser divida em três partes:

1) Cumpriu-se o tempo – a espera das promessas do Antigo Testamento relacionadas à vinda do salvador acabou, pois Ele está no meio de nós.

2) O Reino de Deus está próximo – Este reino é o próprio Jesus. Ele que vem ao encontro de cada um de nós.

3) Convertei-vos e crede no Evangelho – mas para que nós experimentemos essa presença real de Jesus, para que vivamos o seu reino é preciso conversão.

E converter significa mudar de caminho. É necessário assumir o caminho proposto no Evangelho, que é o próprio Cristo: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida” (Cf. Jo,14,6).

Assim começamos a Quaresma na Quarta-feira de Cinzas, ouvindo, segundo o Evangelho de Marcos, a primeira pregação de Jesus, um convite à conversão. Um convite para que, nestes quarenta dias, possamos refletir por quais caminhos temos andado. Um convite para conhecermos e seguirmos pelo caminho que é o próprio Cristo. Um convite para, no caminho que é Cristo, encontrarmos uma vida nova, a ressurreição.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Mensagem do Cardeal: Campanha da Fraternidade 2015 “Eu vim para servir”

A Campanha da Fraternidade deste ano se realiza dentro do contexto das celebrações dos 50 anos do Concílio Vaticano II e tem como tema: “Igreja e Sociedade” e o lema: “Eu vim para servir” (Mc 10,45).

Com a CF deste ano, a Igreja deseja “aprofundar, à luz do Evangelho, o diálogo e a colaboração entre a Igreja e a Sociedade propostos pelo Vaticano II, para melhor servir ao povo brasileiro no atual momento e contribuir com a construção do reino de Deus”.

A Igreja no Brasil, fiel à sua missão evangelizadora, tem participado, desde a chegada dos primeiros missionários, em 1500, da história da sociedade brasileira.

A presença dos missionários, leigos e leigas, inspirados no amor de Jesus, suscitou, desde o início, várias obras de assistência social aos mais necessitados, de promoção humana. Em todos os momentos importantes da vida de nosso país, a Igreja nunca deixou de participar e de colaborar com a construção de uma sociedade mais justa, humana e fraterna. A Igreja nunca se manteve indiferente às situações vividas pelo povo brasileiro.

“As alegrias e esperanças, as tristezas e as angústias dos homens e mulheres de hoje, sobretudo, dos pobres, são também as alegrias e esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo” (Constituição Pastoral Gaudim et Spes, n. 1).

“Eu vim para servir” é a resposta de Jesus aos discípulos quando se perguntavam quem seria o maior, o primeiro dentre eles. Foi uma oportunidade para Jesus lhes dar uma lição sobre o poder como serviço (Mc 8,34-35). Jesus veio não para ser servido e sim para servir e dar a vida pela salvação de muitos.

A missão da Igreja é evangelizar, que implica também libertar as pessoas de situações de exclusão e injustiça que atentam contra a dignidade da pessoa humana e o bem comum.

Com a CF de 2015, a Igreja reafirma à sociedade seu compromisso, a exemplo de Jesus, de colocar-se a serviço de todos os brasileiros na sua missão espiritual e religiosa que lhe é própria e de colaborar com todos na promoção da dignidade da pessoa humana, de seus direitos e do bem comum de todos os brasileiros.



Dom Raymundo Damasceno de Assis
Arcebispo de Aparecida

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Ouvir Jesus, não as novelas e fofocas, pede Papa Francisco

Francisco lembrou a importância de contemplar Jesus no Evangelho, em vez de perder tempo com fofocas e novelas

Na homilia desta terça-feira, 3, o foco do Papa Francisco foi para a oração de contemplação. O Santo Padre voltou a convidar os fiéis a lerem cotidianamente o Evangelho, mesmo que por alguns minutos, pois isso ajuda a ter esperança e a manter o olhar fixo em Jesus, em vez de perder tempo com novelas e fofocas do vizinho.

As reflexões partiram de um trecho da Carta aos Hebreus, que se concentra na esperança. Francisco destacou que, sem escutar Deus, talvez a pessoa possa ter otimismo, ser positiva, mas a esperança se aprende somente olhando para Jesus.

Lembrando a importância de orações como o Rosário e o diálogo que se deve ter com Deus, o Papa enfatizou a oração de contemplação, que só pode ser feita com o Evangelho em mãos. Ele deu um exemplo: no Evangelho de hoje, que fala de Jesus em meio ao povo, aparece cinco vezes a palavra “multidão”. É um convite a pensar na vida de Cristo sempre com o povo.

“Jesus estava continuamente entre o povo. E se olho para Ele assim, contemplo-O assim e O imagino assim. E digo a Jesus aquilo que me vem à mente dizer-lhe.”

Jesus não somente entende a multidão, mas sente o coração de cada um bater e toma conta de todos, disse o Papa, citando o trecho do Evangelho em que Jesus se sente tocado ao ver uma mulher doente em meio à multidão. O Pontífice destacou a paciência de Jesus e o fato de que Ele sempre considerava até mesmo os pequenos detalhes.

“O que eu fiz com este Evangelho é justamente a oração de contemplação: pegar o Evangelho, ler e imaginar-me nas cenas, imaginar o que acontece e falar com Jesus, como me vem ao coração. E com isso nós fazemos crescer a esperança, porque temos o olhar fixo no Senhor”.

Francisco convidou os fiéis a fazerem essa oração de contemplação, mesmo que seja por 15 minutos apenas. “Assim, o teu olhar estará fixo em Jesus e não tanto na telenovela, por exemplo. O teu ouvido estará fixo nas palavras de Jesus e não tanto nas fofocas do vizinho.”

A oração de contemplação, segundo o Papa, ajuda a ter esperança e a viver da sustância do Evangelho. A partir dessa oração, a vida cristã se move entre a memória e a esperança, disse.

“Memória de todo o caminho passado, de tantas graças recebidas do Senhor. E esperança, olhando para o Senhor, que é o único que pode me dar a esperança. E para olhar para o Senhor, para conhecê-Lo, peguemos o Evangelho e façamos esta oração de contemplação”.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Humildade é tudo!

O mundo está em constante movimento, onde cada pessoa com sua profissão soma na construção da história da humanidade. Este mês, por exemplo, saudamos o gráfico, o atleta, o artista, o zelador, o esportista, o comerciante e outros. Entre as diferentes áreas de atuação, existe um fato em comum que alguém já bem definiu: ninguém consegue trabalhar sozinho.

De mecânicos a enfermeiros, de médicos a engenheiros, passando por advogados, jornalistas, costureiras, agricultores, faxineiros, pescadores, vendedores e administradores… todos contam com uma equipe entrosada e bem ajustada para fazer com que todos os serviços sejam executados da melhor maneira possível.


Entre tantos profissionais, evidencio o responsável pelo bem-estar no ambiente de trabalho: o auxiliar de serviços gerais. Ele é aquele que lida com os problemas básicos
do dia a dia e tem como função atender às necessidades de limpeza, fazer a manutenção e a conservação de espaços interiores e exteriores (pátios, jardins, dependências,
patrimônios, vias e bens imóveis).

Conhecemos muitas pessoas que progrediram na vida e se tornaram renomados profissionais, mas que iniciaram sua carreira de trabalhador realizando serviços gerais.

Na Canção Nova, muitos colaboradores, que hoje são profissionais de comunicação como cinegrafistas, editores de TV e operadores de rádio, por exemplo, iniciaram seu trabalho realizando serviços gerais. Muitos, chegaram jovens, em busca de uma oportunidade para trabalhar. Esse é o caso do Paulo Eleutério, que hoje é o responsável por toda a infraestrutura da Canção Nova.

O profissional em serviços gerais torna-se perito em resolver problemas, fazer diagnósticos e encontrar soluções; por isso, acaba sendo aquela pessoa da confiança de todos, porque serve a todos, a exemplo de Jesus que “não veio para ser servido, mas para servir” (cf. Mc 10, 45). Por mais humilde que pareça um bom trabalho, quando feito com zelo enche o coração de alegria.

Assim como não existem pessoas pequenas na vida, sem importância, também não existe trabalho insignificante. Voltaire já escreveu: “O valor dos grandes homens mede-se pela importância de seus serviços prestados à humanidade”.

Neste dia dedicado aos auxiliares de serviços gerais, digo que sou muito grata a eles, pelo empenho de diário, pela organização e pelo zelo dedicados à construção de uma humanidade nova!


Luzia Santiago

Acolha Cristo em cada pobre e necessitado

Precisamos acolher os necessitados de todos os tipos de pobreza

Fiquei impressionado ao ler o capítulo 4 do Evangelii Gaudium, escrito pelo Papa Francisco, sobre a necessidade de evangelizar e a dimensão social da Igreja. O Santo Padre utilizou várias páginas para falar sobre a opção pelos pobres feita por Deus. Não devemos apenas evangelizar, mas atender aos pobres, como Bergoglio fazia quando era cardeal na Argentina.

O Senhor se fez pobre, por isso o Papa Francisco afirma: “Eu desejo uma Igreja pobre para os pobres”! É lindo ver como ele diz que, no coração de Deus, há um lugar preferencial para os pobres, tanto que até mesmo Ele se fez pobre.

Foi como aconteceu em Nazaré, quando uma jovem menina que, em um lugar pobre, foi fecundada pelo Espírito Santo; depois, nasceu Jesus num presépio. Ele, mais tarde, foi trabalhar com José, que também era simples. Já na vida pública, Jesus andava com os simples, com os pobres.

Diferente disso, temos na Bíblia o exemplo de Sóbna (Is 22,15), o mordomo do palácio, um homem tremendamente orgulhoso e vaidoso, que acabou se tornando um megalomaníaco e mandou construir um túmulo suntuoso. E o que aconteceu? Não foi um rei nem mesmo o profeta Isaías quem lhe disse, mas o próprio Deus: “Eu vou destituí-lo do posto que ocupas e demitir-te do teu cargo”. E o Senhor colocou, no seu lugar, Eliacim. E que beleza o Senhor diz a respeito dele! “Ele será um pai para meu povo”.

Aí está o importante: ele será um pai para os habitantes de Jerusalém. Do mesmo modo, você precisa ser pai, ser mãe daqueles de quem você cuida. Seja em que campo for, essa paternidade é importante, é necessária.

Precisamos acolher os necessitados de todos os tipos de pobreza. Você atende o necessitado, Deus atende você! Você deve encontrar o Cristo em cada pessoa. Pois, assim, acolherá o Filho do Deus vivo. Isso é real, não é poesia. O Senhor quer que você viva isso. Se eu sou, por exemplo, um profissional da saúde, eu sou por causa de Cristo, o Filho do Deus vivo.

Até mesmo aquilo que você faz com competência, faça com simplicidade. Tenha no seu coração a certeza: eu sou aquilo que Deus me fez. Quando agimos dessa maneira, o Senhor nos dá uma resposta: “Então, qual novo amanhecer, vai brilhar a tua luz, e tuas feridas hão de sarar rapidamente. Teus atos de justiça irão à tua frente e a glória do Senhor te seguirá” (Is 58,8). Isso é o que afirma a Palavra de Deus e não eu. Eis assim uma forma de sermos atendidos em todas as nossas necessidades!

Monsenhor Jonas Abib
Fundador da Comunidade Canção Nova